Gestão de expetativas no Natal: menos stress, sem culpas e dentro do orçamento

data de publicação13 Dezembro 2023 autor do artigo
Inês de Sousa  |  Psicóloga
A gestão de expetativas no Natal pode ser um verdadeiro desafio, mas não quer dizer que seja de todo impossível. Conseguir conciliar o orçamento disponível para presentes para o agregado familiar, mais pais, tios, primos e amigos, além do tempo necessário para levar esta empreitada avante, pode ser simplesmente esmagador. Mas na verdade, a solução pode depender de uma certa dose de bom senso, responsabilidade e foco no que realmente resiste à passagem do tempo e tem potencial para criar memórias felizes.
Dos principais fatores que constitui uma ameaça à saúde mental são as dificuldades financeiras. Basta a mera antecipação de um saldo negativo na conta bancária para desencadear stress, ansiedade e potenciais estados depressivos. Por isso, é muito importante que o seu Natal não assente na quantidade de presentes que vai colocar no sapatinho, mas na qualidade das memórias de felicidade que vão perdurar no tempo. Neste sentido, deixamos-lhe aqui algumas recomendações para que, neste Natal, o mais importante seja a família, o amor e a harmonia.
 
Gestão de expetativas à medida da sua realidade
Seja realista: Pode não conseguir comprar um presente para todas as pessoas que desejava. Acontece com todos nós. Não se deve culpabilizar por não oferecer um presente a alguém. Pode começar por oferecer presentes apenas às crianças, fazer o jogo do “amigo secreto” com a família e amigos, ou ainda usar a imaginação para oferecer uma lembrança feita por si. Não se esqueça que o gesto de oferecer um presente vai muito além do valor monetário do mesmo. Lembrar-se da pessoa é, só por si, já uma manifestação de carinho.
 
Definir orçamento(s)
É muito importante definir um orçamento, tanto para o valor total que pode gastar como para o valor para cada presente. Não se esqueça que o valor monetário não reflete o verdadeiro valor da sua oferta. Mais importante é preservar-se do stress de chegar ao final de dezembro sem capacidade financeira para fazer face às suas responsabilidades.
 
O poder das listas (e do tempo)
As listas são importantes, porque permitem condensar numa folha de papel (ou num ficheiro de texto) os nomes das pessoas a quem decidiu comprar um presente e qual o presente a oferecer. Desta forma, vai poder controlar o seu orçamento e não se esquecer de ninguém.
 
A Lista do Pai Natal
Quando as crianças aprendem a escrever, um dos primeiros textos é a carta ao Pai Natal, que às vezes assume mesmo a forma de uma lista (que muitas vezes parece interminável) de brinquedos e de gadgets ligados às novas tecnologias. Os mais pequenos, que ainda não conhecem as letras, assinalam nos catálogos os presentes que querem, indiferentes ao preço e ao espaço em casa para os guardar.
Esta é uma boa oportunidade para os pais se sentarem com eles e definirem prioridades. Fazer uma boa gestão de expetativas no Natal por parte das crianças pode parecer desafiante, mas com calma e amor, é um objetivo alcançável.
É importante explicar que não é possível ter todos os presentes da lista, mas podem escolher em conjunto um presente preferido. Se o preço ultrapassar o orçamento, há ainda a possibilidade de, em conjunto com outros familiares, (pais e avós, por exemplo) conseguirem satisfazer esse desejo. É fundamental que as crianças aprendam a fazer concessões e comecem a conseguir definir o que é realmente importante para elas. O tema do orçamento familiar pode ser abordado nestes momentos em que os gastos com prendas são mais visíveis.
Outro aspeto que não deve ser descurado diz respeito a princípios orientadores que ajudem as famílias a assegurar uma gestão saudável entre aquilo que têm e podem dar e os efeitos negativos do consumismo. Na compra de um presente deve ser dada atenção a vários fatores, nomeadamente aos benefícios dele decorrentes – promoção de autonomia, aquisição de competências cognitivas e a possibilidade de adquirir novos conhecimentos através de pesquisas online, no caso de computadores, tablets, etc. - sempre num contexto de uma utilização regrada dos mesmos.
 
Dizer “não” à culpa e “sim” ao estar presente
Para muitas famílias não vai ser possível oferecer presentes neste Natal. O importante é não se sentir culpado e investir no verdadeiro espírito desta Quadra. Não se esqueça que o Natal não se esgota nos presentes (comprados). Pode sempre oferecer uma lembrança feita por si (e pelos miúdos), cozinhar uma sobremesa ou um bolo, gestos que podem ser tão significativos para quem recebe e que, de certeza, recordarão com carinho. O mais importante será estar presente, oferecer o seu tempo aos seus filhos e família, ser um bom ouvinte e partilhar momentos e recordações junto de quem mais gosta.
 
Não se esqueça de si 
Nestes dias que antecedem o Natal, é normal que os níveis de stress e ansiedade estejam mais elevados. É importante estar atento a estes sinais e incluir cuidados consigo mesmo, por precaução. Nada de mais: não se esquecer de se alimentar de forma saudável, de continuar a praticar exercício físico, de garantir que tem uma boa higiene de sono e de não deixar de fazer o que o faz feliz. É, sem dúvida, uma época desafiante, mas com uma boa planificação pode haver tempo para tudo e sentir-se bem para lidar com todas as solicitações, não deixando que os momentos stressantes se transformem em angústia.
 
Se sentir necessidade, procure ajuda
Nem todas as pessoas vivem o Natal com o mesmo entusiasmo. Em alguns momentos é normal que se sinta assoberbado, com tanto para fazer (e gastar) e tão pouco tempo até à Consoada.
Além disso, o Natal é também, muitas vezes, um período em que se recordam os entes queridos que já não estão entre nós, o que, inevitavelmente, instala uma enorme tristeza.
Se sentir necessidade, procure o apoio de um especialista em Psicologia, um profissional de saúde pronto para o ajudar e com ferramentas científicas que podem prevenir que o stress, tristeza e ansiedade se transformem em algo mais grave.

Que a magia deste Natal nos inspire e mobilize para que, em conjunto, saibamos agir com prontidão e de forma preventiva, face a todos os desafios que a sociedade nos coloca, individual e coletivamente.

Autor do artigo

Inês de Sousa

Psicóloga