Parkinson – tudo o que precisa de saber sobre uma doença que é para a vida

data de publicação09 Abril 2021 autor do artigo
João Pedro Marto  |  Neurologista
A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais frequente, superada apenas pela doença de Alzheimer. Esta condição conduz à perda de neurónios responsáveis pela secreção de dopamina, originando os sintomas motores típicos da doença. O seu nome deriva do cirurgião James Parkinson que, em 1817, descreveu os sintomas desta doença.

Em Portugal estima-se que esta doença afete 180 em cada 100 mil portugueses acima dos 50 anos. O pico da incidência da Doença de Parkinson é acima dos 70 anos, afetando mais homens que mulheres.

Para esta doença, existem duas estratégias de tratamento de referência, que são a terapêutica com dopamina (ou agonistas dopaminérgicos) e a cirurgia de estimulação cerebral profunda. No entanto, até à data, não existem estratégias para evitar a progressão da doença de Parkinson.

 

O que provoca a doença Parkinson?

A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa que resulta na acumulação anormal de uma proteína (alfa-sinucleína) nos neurónios, dando origem aos Corpos de Lewy, característica patológica desta e de outras doenças neurodegenerativas. O processo de degeneração evolui de forma lenta e progressiva, estendendo-se a diferentes áreas do sistema nervoso, sobretudo a uma área do cérebro chamada substantia nigra responsável pela produção de dopamina. A dopamina é um neurotransmissor fundamental para as funções do movimento. Com a perda de neurónios que segregam dopamina surgem os sintomas típicos da doença de Parkinson.

 

Fatores de risco - Quem está mais suscetível a ter esta doença:

Ao longo das últimas décadas têm sido apontados vários fatores de risco ou precipitantes para a doença de Parkinson. No entanto, não são totalmente claros os mecanismos que levam ao início da neurodegeneração.

A doença de Parkinson é uma doença associada ao envelhecimento e, por isso, a idade apresenta-se como fator de risco. É também mais frequente no sexo masculino. História de traumatismo craniano, exposição a pesticidas ou a outros tóxicos como o manganésio, poderão promover o aparecimento da doença. Por outro lado, apenas uma pequena fração de doentes com doença de Parkinson têm uma causa genética identificável, sendo raros os casos de transmissão familiar (hereditários).

 

Sintomas que se veem e que se sentem

Os sintomas da doença de Parkinson são variáveis e diferentes entre cada caso. Os primeiros sintomas podem ser ligeiros e pouco perceptíveis. De forma geral dividem-se em sintomas motores e não-motores.

Sintomas motores

Regra geral são assimétricos, ou seja, começam num lado do corpo. À medida que a doença evolui, tornam-se bilaterais, sendo geralmente mais graves do lado do corpo onde tiveram início:

- Tremores de repouso: Movimento involuntário que pode surgir, por exemplo, na mão, pé ou queixo – como o próprio nome indica, surge sobretudo quando os doentes estão parados, e desaparece ou atenua durante a realização de tarefas. Uma descrição clássica é o tremor dos dedos da mão como “se estivesse a contar moedas.”

- Bradicinésia: Movimentos lentos e pouco amplos com dificuldade, por exemplo, em levantar-se, caminhar, ou entrar num carro. Ao caminhar geralmente é evidente um menor balanceio dos braços. Pode existir uma falta de expressão da face e diminuição do pestanejo (hipomímia facial), dificuldades no discurso com diminuição do volume da voz (hipofonia) ou alteração da articulação verbal, e ainda dificuldades na escrita com caligrafia mais pequena.

- Rigidez: Aumento da rigidez muscular em qualquer parte do corpo, que pode contribuir para a diminuição de mobilidade mas também para queixas dolorosas.

- Instabilidade postural: Alteração do equilíbrio com dificuldade na marcha, ou mudanças de posição.

Sintomas não-motores

Estes sintomas muitas vezes antecedem os sintomas motores e são por vezes desvalorizados. Tal como os sintomas motores, contribuem para importante diminuição da qualidade de vida dos doentes com doença de Parkinson.
Principais sintomas não-motores:

- Perda de olfacto

- Depressão e ansiedade

- Contenção ou necessidade urgente de urinar

- Obstipação

- Disfunção sexual, sobretudo ao nível da libido e da disfunção eréctil

- Dores nos membros e costas

- Excesso de saliva (sialorreia) e excesso de suor (hiperidrose)

- Episódios de diminuição de pressão arterial na mudança da posição deitada/sentada para em pé, o que pode resultar em desmaios (hipotensão ortostática)

- Distúrbios do sono como insónia, síndrome de pernas inquietas ou sonhos vividos

- Deterioração cognitiva com diminuição da atenção ou memória

- Alucinações visuais e outras

 

Evolução da doença

Uma das principais questões colocadas por doentes e familiares após o diagnóstico de doença de Parkinson é o que esperar nos próximos anos e qual o impacto no dia a dia. A evolução da doença é diferente de caso para caso. Numa fase inicial a medicação permite melhorar de forma significativa alguns dos sintomas e contribuir para uma melhor qualidade de vida. Sabemos, contudo, que uma a duas décadas após o diagnóstico, uma percentagem importante de doentes irá apresentar importante incapacidade funcional tal como sintomas de demência.

 

Diagnóstico

O diagnóstico é fundamentalmente clínico, tendo por base a história clínica e observação do doente, geralmente numa consulta de Neurologia. Não existe à data nenhum exame complementar de diagnóstico que permita confirmar o diagnóstico de doença de Parkinson.
Quanto aos exames de imagem a Drª Joana Graça, Neurorradiologista da Cintramédica, afirma que “a imagem por Ressonância Magnética, além de permitir excluir outras causas de quadro parkinsónico (tal como doença vascular cerebral) pode ser útil na confirmação do diagnóstico clínico de doença de Parkinson e na distinção de um quadro de Parkinson verdadeiro de outras doenças neurodegenerativas.”

 

Como se gere a doença de Parkinson

Não existe à data uma terapia que permita travar a evolução da doença de Parkinson. No entanto os tratamentos disponíveis mostraram ter um impacto relevante na melhoria dos sintomas motores e não-motores, tal como na qualidade de vida doentes.

  • Medicamentos

O objetivo é restituir os níveis de dopamina que se encontram diminuídos devido à degeneração dos neurónios responsáveis pela sua produção.

Entre a medicação mais utilizada destaca-se:

- Fármacos que têm por base a levodopa, substância que tem a capacidade de chegar diretamente ao cérebro e estimular a produção de dopamina

- Agonistas dopaminérgicos, ou seja, fármacos que “imitam” os efeitos da dopamina

- Inibidores da MAO B (monoamina oxidase B) e da COMT (catecol-o-metiltransferase), que diminuem a degradação de dopamina, aumentando os seus níveis

  • Estimulação Cerebral Profunda

É uma intervenção cirúrgica destinada a um grupo selecionado de doentes que, em regra geral, apresentam boa resposta à medicação mas, simultaneamente, têm períodos de flutuações motoras (momentos do dia com agravamento da bradicinésia e/ou períodos de movimentos involuntários excessivos). A intervenção deve ser realizada num centro com experiência nesta área e envolve uma avaliação multidisciplinar (Neurologia, Neurocirurgia, Psiquiatria).
A cirurgia consiste na colocação de eléctrodos numa ou mais zonas cerebrais, responsáveis pela captação de estímulos eléctricos mas também gerador de impulsos. No conjunto funciona como um “pacemaker” cerebral e contribui para uma melhoria de sintomas motores e de qualidade de vida. Após a cirurgia, os parâmetros do estimulador são ajustados com o objetivo de melhorar os sintomas e reduzir a medicação.

 

Viver com a doença de Parkinson

Além das terapias que forem mais adequadas ao seu caso, o seu médico poderá aconselhar-lhe algumas alterações no estilo de vida, relacionadas, sobretudo, com a prática de atividade física aeróbica e com uma alimentação saudável.

Atividade física: Exercitar a resistência muscular, flexibilidade e o equilíbrio podem ajudar no controlo dos sintomas da doença de Parkinson. Pode ser recomendado um programa de Fisioterapia especialmente desenhado para a sua condição.

Alimentação: Como em todos doentes, uma dieta variada e equilibrada poderá contribuir para uma vida mais saudável. No particular caso de doentes com obstipação, adequar a quantidade de água e a ingestão de alimentos ricos em fibra pode ser útil.

Existem também alguns casos em que o seu médico Neurologista pode recomendar uma Consulta de Terapia da Fala.

 

Marque a sua consulta de Neurologia na Cintramédica

A Doença de Parkinson pode ser gerida com uma terapia adequada.

Se suspeita apresentar algum dos sintomas referidos, pode marcar uma Consulta de Neurologia na Cintramédica. Prolongue a sua qualidade de vida e a dos seus familiares.

 

Referências bibliográficas:

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João Pedro Marto

Neurologista