Hormonas da felicidade: o segredo para estimular o seu bem-estar

data de publicação18 Dezembro 2023 artigo revisto por
Violeta Nogueira  |  Psiquiatra

A influência que as hormonas e os neurotransmissores têm no nosso bem-estar e manutenção da saúde mental é inegável, apesar de, na maior parte das vezes, nem sequer estejamos conscientes disso. Todos já sentimos a vontade de satisfazer um desejo repentino, seja de comer um quadrado de chocolate, tomar um banho quente, ou dar uma gargalhada com vontade. Na verdade, muitas destas emoções podem ser desencadeadas pela secreção de hormonas e neurotransmissores, substâncias que estão presentes em todos os nossos processos mentais e que influenciam o nosso comportamento. A influência que estas hormonas e os neurotransmissores têm no nosso bem-estar e manutenção da saúde mental é inegável, apesar de, na maior parte das vezes, nem sequer estejamos conscientes disso.
Fique a conhecer os mecanismos que desencadeiam a produção das “hormonas da felicidade”.
 

Hormonas e neurotransmissores

A nossa resposta a estímulos internos e externos conduz à secreção de hormonas e neurotransmissores, ou seja, substâncias que asseguram a comunicação entre os milhões de neurónios, ligados por triliões de sinapses, e que regulam uma série de funções do organismo, como o sono (melatonina), o stress (cortisol), a temperatura interna ou o crescimento do cabelo (hormonas da tiroide) ou até uma reação alérgica (histamina).
Existem também outros neurotransmissores, como a dopamina, a serotonina, as endorfinas e a oxitocina, que conjugam a sua função com uma espécie de "efeitos secundários de estímulo positivo", materializados em processos de “recompensa”, “estabilização”, “alívio” e “vinculação”.

 

Dopamina  e sistema de recompensa

A dopamina ativa os “centros de prazer” no cérebro, bastando para isso um mero pensamento ou sugestão. Funciona como um sistema motivador (ou de recompensa) e é mais ativado quando optamos por um comportamento aprendido que nos deixou “felizes” no passado. Exemplo: pensamos em comer chocolate, e ao anteciparmos o prazer de o comer em pensamento, a dopamina é segregada e sentimos prazer.

A dopamina é um neurotransmissor produzido na área tegmental ventral e na Substantia nigra, localizados numa zona central do cérebro. Atua na função motora, na cognição, e na capacidade de foco e atenção, além de promover o planeamento e a decisão, influenciar o estado de humor e conduzir, por vezes, à euforia e à motivação.
Existem várias formas de segregar dopamina, nomeadamente através da prática de exercício físico. Aliás, quem pratica jogging, por exemplo, sente uma típica “euforia” de corredor, assim como quem pensa num banho quente e relaxante não descansa enquanto não entra na banheira.
No entanto, podem ocorrer “descargas” anómalas de dopamina, podendo tornar-se disfuncional, como acontece na dependência de álcool ou de outras substâncias aditivas. Nestes casos, e com o passar do tempo, o estímulo da dopamina deixa de produzir o seu efeito, levando mesmo a um défice basal (de base) de dopamina, o que pode conduzir a estados de depressão e prejudicar a saúde mental. Do mesmo modo, uma má higiene do sono, estados depressivos ou patologias como a doença de Parkinson podem refletir-se em níveis baixos de dopamina no organismo.

 

Estabilização do humor pela serotonina

A serotonina é conhecida como a “hormona da boa disposição e do bem-estar”, apesar de, na realidade, ser um neurotransmissor. Além do seu efeito relaxante, tem um papel importante na regulação do sono, no funcionamento saudável dos intestinos e numa coagulação eficaz do sangue.

Apesar de uma pequena quantidade de serotonina ser segregada pelo tronco encefálico no Sistema Nervoso Central, este neurotransmissor também é produzido por células especializadas no intestino. A sua produção está ligada a um aminoácido (o L-triptofano) obtido através de alimentos como nozes, queijo, carnes vermelhas e salmão.
Apesar de existirem vários medicamentos antidepressivos desenhados para aumentar os níveis de serotonina, existem formas “naturais” de estimular a sua produção, como passar tempo no exterior, à luz do sol, ou praticar exercício e meditação.

 

Aliviados pelas endorfinas

As endorfinas são uma espécie de analgésico natural que atua nos recetores opiáceos do cérebro. São segregadas pela hipófise (glândula pituitária, situada na base do cérebro) como resposta à dor ou ao stress. Aliás, o efeito analgésico das endorfinas é, muitas vezes, utilizado na reabilitação em Fisioterapia. De acordo com uma teoria denominada TENS (Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation), são utilizados impulsos elétricos de baixa frequência na pele para estimular a libertação de endorfinas, o que acaba por ter um efeito analgésico nas intervenções terapêuticas da Fisioterapia. Por outro lado, e de maneira geral, pessoas com dor crónica e que sofram de patologias como fibromialgia ou síndrome de fadiga crónica apresentam, tipicamente, níveis mais baixos de endorfinas do que pessoas saudáveis praticantes de exercício físico.

Além deste efeito analgésico, as endorfinas melhoram o humor, podendo conduzir a sensações de euforia, apetite e libertação de hormonas sexuais, assim como de um aumento da resposta imunitária.
Entre as atividades que estimulam a produção de endorfinas destaca-se o exercício físico aeróbico, as relações sexuais, a meditação ou uma sessão de relaxamento, além do consumo de alimentos como pimentos e chocolate, sem esquecer a exposição à radiação ultravioleta do sol.

 

Ligados pela oxitocina

A oxitocina é considerada, muitas vezes, a “hormona do amor”. Promove o vínculo, a interação social e a motivação para desenvolvermos ligações mais profundas com os outros. No entanto, desempenha também um papel muito importante na maternidade. Por um lado, a oxitocina ajuda a estimular a contração dos músculos uterinos no início do trabalho de parto. Aliás, quando injetada na sua forma sintética, ajuda a induzir o parto. Por outro lado, a sua produção ajuda também a promover a produção de leite disponível para a amamentação do recém-nascido.
A oxitocina é produzida no hipotálamo e é libertada na corrente sanguínea pela glândula pituitária (hipófise). O toque físico, o dar as mãos, o abraço ou as relações sexuais estimulam a produção de oxitocina. Do mesmo modo, as conversas cúmplices, ajudar os outros ou interagir com um animal de estimação também pode elevar os níveis de oxitocina no organismo.

 

Quanto tempo dura a felicidade?

De maneira geral, existem uma série de comportamentos que podem estimular a produção das “hormonas da felicidade”. O exercício físico está presente na maior parte deles, sendo que a manutenção de um estilo de vida saudável, com uma alimentação equilibrada, controlo do stress e uma boa higiene do sono são aspetos comuns e essenciais à manutenção do bem-estar e da qualidade de vida.
A duração do efeito das “hormonas da felicidade” é diferente entre cada substância, na medida em que, por exemplo, o efeito das endorfinas e da dopamina dura menos tempo do que o da serotonina e da oxitocina.

Pode dizer-se que a felicidade não é um estado permanente, mas antes um estado dinâmico que depende da interação de múltiplos neurotransmissores, que, caso saibamos "pressionar" os "botões" certos, podem ser estimulados pelo nosso comportamento.

Artigo revisto por

Violeta Nogueira

Psiquiatra