O traumatismo crânio-encefálico nas crianças é uma situação que abrange um conjunto de alterações no crânio (na pele, no osso, no cérebro, etc.) causadas por uma força externa. Esta força pode ser direta (em resultado de um choque provocado por uma queda/embate ou por ação de um objeto penetrante) ou indireta, sendo que neste caso é, muitas vezes, provocada por maus tratos (chocalhar o bebé ou o perigoso “shaken baby syndrome”), situação que acaba por causar alterações mais difusas e crónicas.
O traumatismo crânio-encefálico (TCE) em crianças é frequente em idade pediátrica. Na maior parte dos casos é ligeiro, ou seja, não provoca lesões intracranianas. No entanto, o impacto funcional pode ser bastante diferente do observado nos adultos, além de que as suas consequências podem não ser imediatamente visíveis porque o cérebro das crianças ainda está em desenvolvimento. Calcula-se que a maioria dos TCE ocorram em crianças dos 0-4 anos de idade, sobretudo por causa de quedas. No entanto, o segundo maior pico de incidência ocorre nos maiores de 15 anos, fruto dos acidentes de desporto, de bicicleta/skate, de viação e assaltos.
Alguns estudos epidemiológicos calculam que apenas 5% dos TCE são moderados (segundo a escala mais usada em TCE - Escala de Coma de Glasgow de 9-12) ou graves (Glasgow < 9). Ainda assim, o TCE é a causa mais frequente de morte ou incapacidade em crianças com mais de 1 ano de idade.
O TCE pode ir desde uma concussão (TCE ligeiro), até uma ferida profunda ou aberta, uma fratura craniana (simples/complexa, alinhada/desalinhada ou afundada) com ou sem hemorragia intracraniana (contusão, hematoma epidural, subdural, subaracnoideu, intraparenquimatoso, etc.) ou outras lesões cerebrais.
Os sintomas dependem da criança, da sua idade e da gravidade da lesão.
Os sintomas de TCE ligeiro podem ser:
Os sintomas de TCE moderado a grave podem incluir qualquer um dos descritos acima, além de:
Se reconhecer algum dos sintomas supramencionados após um traumatismo direto ou indireto, o primeiro passo é levar a criança a um Serviço de Urgência Pediátrica para que seja observada por um especialista treinado. É este profissional médico que tem a capacidade de reconhecer os sinais e sintomas, eventualmente utilizando escalas que ajudam a determinar a gravidade do TCE e o que fazer a seguir.
Os exames complementares de diagnóstico, nomeadamente a realização de Tomografia Computadorizada (TAC), um exame com exposição indesejada de radiação, deve ser apenas pedido se se justificar clinicamente, isto é, em caso de suspeita de TCE mais grave.
O tratamento varia consoante a gravidade e o tipo de TCE, os sintomas, a idade e a saúde geral da criança.
Este pode incluir:
Uma criança também pode precisar de:
Após um período de descanso (24-48h de descanso físico e cognitivo no caso do TCE ligeiro) a criança deve ir retomando as atividades diárias com esforços crescentes com intervalo de, pelo menos, 24h, retrocedendo se se observar agravamento de queixas/sintomas.
O mesmo deve ser feito com o regresso à escola e a atividades mais mentais. Todas as atividades cognitivas não essências (como jogar videojogos) devem ser reintroduzidas só após uma rotina física quase normal.
No caso de persistência de sintomas por período superior a 4 semanas, a criança deve ser referenciada a um especialista, podendo tratar-se de um Síndrome Pós-concussão. Outras vezes existem alterações intracranianas que merecem vigilância da sua evolução, como alguns hematomas ou fraturas.
As crianças que sofrem de TCE grave podem perder algumas funções de força muscular, fala, visão, audição ou paladar, dependendo da área onde o cérebro foi danificado. Mudanças de personalidade ou no comportamento também podem ocorrer a curto ou longo prazo.
A reavaliação de crianças com TCE tem em consideração os comportamentos, pontos fortes e necessidades da criança ao longo do seu desenvolvimento e reabilitação após o TCE, incluindo o regresso à escola e a atividades desportivas. Para as crianças é particularmente útil focarmo-nos na avaliação de áreas críticas para a aprendizagem e para o sucesso escolar. Esta requer uma colaboração contínua com a família, escola e profissionais médicos, cirúrgicos e de reabilitação. Ainda assim, o quão bem uma criança recupera de um TCE depende do tipo de lesão e de outros problemas de saúde que possam estar presentes.
Referências Bibliográficas:
O regresso às aulas é um momento do ano que pode trazer alguns desafios, nomeadamente no acerto das horas de deitar e levantar. Conheça as nossas dicas.