Porque é que os castigos não funcionam?

data de publicação29 Maio 2017 autor do artigo
Joana Sousa Teles  |  Psicóloga

A mente de uma criança encontra-se em constante desenvolvimento pelo que as relações que estabelece com as principais figuras de referência terão uma enorme influência na formação da sua personalidade.

Uma criança que é repetidamente castigada ou batida acaba, em defesa, por desenvolver mecanismos que a distanciam do sofrimento e mais tarde, em adulta, tenderá a ser uma pessoa distante dos sentimentos, isolada, pouco social ou empática uma vez que quer defender-se de sentir pois acredita que foram os seus sentimentos que a fizeram sofrer. Um castigo gera angústia, raiva. Com o castigo não estamos a dar ao nosso filho uma verdadeira oportunidade de fazer bem, de fazer mudanças. A ideia de “perdido por cem perdido por mil” persiste e gera sentimentos negativos, angústia, raiva, incapacidade. Uma consequência ensina o nosso filho a fazer as escolhas certas, a implicar-se, a responsabilizar-se.

Para que isto resulte é necessário que seja explicado exatamente o que é esperado, de forma clara e direta, transmitindo a ideia de que a escolha é deles e que perante essa mesma escolha haverá uma consequência. Então se por exemplo queremos que o nosso filho faça os trabalhos de casa, arrume a mochila e ponha a mesa, podemos referir que a partir daquele dia terá de fazer aquelas três coisas para que depois e só depois, jogue no seu telemóvel. O raciocínio contrário será lógico pois se não cumprir não jogará. Podemos até auxiliar fazendo uma lista de tarefas e colocando-a num local visível, relembrando-o nos primeiros dias, para que depois, de forma autónoma e responsável consiga fazê-lo sozinho. A ideia é que consigam estabelecer uma ligação direta entre os seus atos e as ações e consequências.

Dar a oportunidade de uma mudança significa que mesmo que não cumpram num dia e seja dada a devida consequência, queremos que percebam que aquilo em que acreditamos e esperamos é que no dia seguinte sejam capazes de fazer as três coisas para que possam jogar nos seus telemóveis. Se a consequência (negativa) for longa perde o seu efeito (o de atingir o comportamento pretendido). A sensação de liberdade de escolha ou mesmo a frase "podes escolher " dá-lhes uma sensação de controlo, de capacidade, de autonomia, de poder de decisão.

É igualmente importante a rotina e a consistência uma vez que permitem aos nossos filhos saber o que devem ou não fazer.

Seja claro em como não permite determinado comportamento mas que ama incondicionalmente o seu filho. Frases como: "és mau" e "és mal comportado" rotulam as crianças/adolescentes e podem levar a uma baixa auto estima. Nós pais devemos acreditar e esperar sempre que eles são capazes de fazer melhor.

As palavras acompanham os atos. O seu filho ouve a sua voz desde que está na sua barriga. Assim, se repetimos varias vezes uma instrução e a acção nem sempre é consistente acontece que eles protelam pois preferem/escolhem manter-se a fazer o que estão a fazer, do que fazer o que os pais estão a pedir. Se pelo contrário nos dirigimos até eles e lhes pedimos olhos nos olhos o que queremos e deixamos claro que é para cumprir no momento, então o resultado será com certeza diferente.

Educar com afeto uma criança, acreditando nela, na sua capacidade, no seu sucesso fará dela um adulto mais feliz, capaz e confiante.

Autor do artigo

Joana Sousa Teles

Psicóloga

Libânia Manuela Gomes
06 Maio 2019
Concordo com o artigo escrito pela Drª Joana Teles, pois sempre castigos e bater não leva a lado nenhum. Já eduquei três e posso comprovar.