JOMO: A “arte” de estar no presente
O JOMO é uma sigla em inglês para
joy of missing out. Este conceito traduz a capacidade de não experienciar ansiedade e conseguir sentir um prazer consciente em desconectar-se. Está relacionado com a aptidão em aceitar e lidar de forma construtiva com o facto de poder estar a “perder algo” e de “não estar em tudo”.
Num mundo em que as solicitações são inúmeras e constantes, em que o digital apela permanentemente à ação e reação, é importante desenvolver a arte de estar presente. Para fazê-lo é necessária a mobilização de recursos individuais para concentrar a nossa energia no AQUI E AGORA, o foco no que nos dá prazer
, na valorização do nosso tempo, na qualidade das nossas relações e na qualidade das experiências, em vez da quantidade. Requer dar atenção ao que se É (SER), mais do que àquilo que se TEM (TER), e também que temos/somos ao invés do que nos falta. Estes são passos essenciais para o bem estar e equilíbrio emocional.
“Apagão” nas redes sociais
No dia 4 de outubro de 2021, algumas das principais redes sociais ficaram offline durante 6 horas. Em consequência desta quebra, investigadores da Universidade de Bar-Ilan em Israel, realizaram um
estudo com cerca de 500 pessoas sobre o que sentiram durante o “apagão” das redes sociais. Sem surpresa, algumas pessoas confessaram a sua ansiedade em não ter acesso às plataformas. Mas muitas pessoas confessaram-se aliviadas, sem a pressão de ter de refrescar os seus feeds, e simplesmente falaram com os amigos, cozinharam, praticaram desporto. No fundo, passaram para um estado de JOMO.
Este conceito tem sido desenvolvido e debatido em diversas áreas, na Psicologia
, na Gestão de Recursos Humanos, no Marketing, e tem em oposição um outro conceito que é o FOMO.
FOMO: a raiz do stress
FOMO, ou
fear of missing out, refere-se à experiência emocional caracterizada pelo medo ou ansiedade de estarmos excluídos de algo positivo que os outros estão a viver, como por exemplo estar fora ou ausente de uma festa ou evento, não ver ou comentar um post nas redes sociais, de não perceber uma piada, etc.
Trata-se de um conceito que é anterior à explosão das redes sociais mas que, com estas plataformas e mais recentemente com o isolamento ligado à Pandemia, se generalizou e ganhou uma maior dimensão. Durante o tempo em que estivemos isolados ou em confinamento, as redes sociais foram um ponto de contato com amigos e família, e também em algumas situações, uma idealização e compensação do mundo real. Essa imagem projetada de sucesso e esses sentimentos tiveram alguns aspetos positivos, no entanto também geraram focos de ansiedade e isolamento em certos indivíduos. As comparações feitas entre os conteúdos visualizados nas redes sociais, as idealizações e a nossa vida real tornam mais difícil a adaptação à vida do dia-a-dia que cada indivíduo constrói.
Alguns estudos sobre o FOMO encontraram correlação entre o uso intenso das redes sociais e elevados níveis de FOMO, tendo consequentemente um impacto negativo na saúde mental.
Esta síndrome tem vindo a ser estudada na Psicologia e na Psiquiatria e é considerada um transtorno da ansiedade, inserido no grupo das fobias específicas. Alguns dos sintomas associados a este quadro são:
- Pensamentos catastróficos sobre a perda
- Necessidade de aprovação e validação permanente
- Medo constante de desvalorização
- Consulta constante de redes sociais
- Insegurança e baixa auto-estima
- Tristeza
- Irritabilidade e alterações bruscas de humor
- Angústia intensa
- Alterações do sono
- Sintomatologia psicossomática (por ex: respiração agitada, palpitações, tonturas e vómitos)
Do FOMO para o JOMO com equilíbrio
O conceito JOMO implica mudar de
mindset: em vez de se ficar ansioso por não estar presente, aproveitar a oportunidade para viver e focar no momento presente, aprender a dizer não conscientemente e tirar prazer e alegria com isso. Este conceito tem sido apoiado e desenvolvido pelas áreas do Mindfulness e da Psicologia.
Estratégias para JOMO:
- Aceitar a realidade: práticas de aceitação
- Práticas de Mindfulness: meditação, yoga, pilates, relaxamento ou outra prática desportiva
- Procurar definir o que realmente é importante para si: Objetivos, gostos, desejos e necessidades
- Aprender a dizer NÃO: trabalhar a capacidade de estabelecer e comunicar limites
- Utilizar estratégias de auto-controlo: cronometrar o tempo diário que passamos nas redes sociais, estabelecer um objetivo de tempo diário, ir reduzindo esse tempo e utilizando-o para realizar atividades de lazer prazerosas. É importante adotar estratégias de proteção como desligar as notificações, estabelecer limites para determinadas aplicações ou desligar o dispositivo à noite
- Estar atento àquilo que sente quando utiliza as redes sociais: tenha maior atenção à forma como utiliza as redes sociais e às emoções que sente quando visualiza diferentes conteúdos, avaliando se são efetivamente benéficos para si
- Foco no EU: faça um esforço consciente para reservar tempo para dedicar-se a si e ao autoconhecimento
- Foco no AQUI e AGORA: Foco no presente. Estar apenas no momento que está a viver, estar em plenitude nesse momento
- Procurar ajuda profissional (Psicologia e/ou Psiquiatria): Caso identifique sofrimento psicológico associado a esta condição, procure um profissional para partilhar e conversar sobre a situação. Podem ser eficazes as Terapias Psicológicas, tais como Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Terapias Cognitivo-Comportamentais de terceira geração (baseadas no Mindfulness, Terapia da Aceitação e Compromisso, etc). Em algumas situações pode ser recomendado apoio farmacológico, a avaliar pelo médico Psiquiatra.