Fotoenvelhecimento: quando o sol acelera a idade

data de publicação03 Agosto 2023 artigo revisto por
Arnaldo Valente  |  Dermatologista
O fotoenvelhecimento consiste no envelhecimento prematuro da pele devido a uma exposição prolongada, ao longo dos anos, aos raios ultravioleta (UV) do sol ou dos solários. Este envelhecimento prematuro é mais visível nas zonas do corpo normalmente mais expostas ao sol, como as mãos, braços, pescoço e face. Atinge sobretudo pessoas com profissões que implicam passar mais tempo ao sol, como, por exemplo, agricultores ou pescadores. No entanto, também afeta pessoas que associam uma pele bronzeada a um padrão de beleza, talvez sem saber as consequências para a saúde que a exposição solar excessiva representa. Aliás, o bronzeado é um mecanismo de defesa da pele contra a agressão dos raios UV. Vejamos o que acontece quando os raios UV entram em contacto com a pele.
 
Como é que a pele compensa os raios UV?
Os raios UV queimam a pele. No Verão, no nosso hemisfério, atingem a intensidade mais alta entre as 11h e as 17h. São uma radiação que ultrapassa nuvens, nevoeiro, água (até uma profundidade de 30 centímetros) e penetram também a camada mais superficial da pele (epiderme) até à derme. Em resposta a esta agressão, a pele produz melanina, substância que absorve os raios UV, de modo a prevenir-se de futuras exposições. No entanto, a quantidade de melanina produzida depende do fototipo de cada pessoa. Pessoas com a pele branca, com sardas, ruivas e de olhos claros, produzem menos melanina do que pessoas com a pele, olhos e cabelo escuros, sendo, por isso, mais vulneráveis aos efeitos do fotoenvelhecimento. No entanto, ninguém está imune aos efeitos dos raios UV. A capacidade da pele em produzir melanina é limitada, o que leva a que exposições prolongadas ao sol acelerem o envelhecimento da pele, podendo conduzir inclusive a mutações genéticas e ao cancro da pele.
 
Fotoenvelhecimento: rugas, manchas e pele mais áspera
O envelhecimento da pele faz parte da biologia humana. Com a idade, a pele torna-se mais fina, áspera, seca, perde a sua elasticidade e formam-se rugas. Mas perde também a capacidade de se renovar. Aliás, o ritmo de renovação da pele aos 70 anos é cerca de metade do que ocorre aos 30. O fotoenvelhecimento vem acelerar esta incapacidade de renovação. Assim, formam-se rugas em idades mais precoces. Podem surgir também manchas senis, semelhantes a sardas (lentiginas), decorrentes de um fenómeno de “hiperpigmentação”, levando a que determinadas zonas da pele, como na face ou nas costas das mãos, produzam mais melanina do que no resto do corpo.
Outra consequência da exposição solar prolongada é o aparecimento de uma complicação denominada ceratose actínia, ou seja, lesões pré-cancerígenas, que assumem uma cor rosada, avermelhada, acinzentada ou acastanhada, assim como uma textura áspera e escamosa.
Entre outras consequências, os raios UV, e em particular os UVB, podem conduzir a mutações celulares que, no limite, evoluem para cancro da pele.
 
Existem tratamentos para o fotoenvelhecimento?
Em primeiro lugar, deve-se realçar que muitos dos efeitos do fotoenvelhecimento são irreversíveis. No entanto, existem alguns tratamentos que podem atenuar os seus efeitos, como o peeling químico, cremes à base de alfa-hidroaxiácidos, cremes com tertinoína e terapias com laser. Estes tratamentos podem ajudar a melhorar o aspeto estético de rugas finas, pigmentação irregular ou coloração amarelada, mas têm menos resultados em rugas profundas e danos cutâneos.
 
Como prevenir o fotoenvelhecimento?
É praticamente impossível prevenir a exposição solar e os seus efeitos cumulativos no envelhecimento da pele. No entanto, é possível atrasar os seus efeitos e, sobretudo, diminuir a probabilidade de cancro da pele.
As principais recomendações são:
  • Evitar o pico dos raios UV, entre as 11h e as 17h
  • Evitar a utilização de solários (apresentam os mesmos malefícios do sol ou superiores)
  • Procurar espaços de sombra
  • Usar vestuário adequado como chapéu de abas largas e óculos de sol
  • Usar protetor solar com o FPS adequado à idade e ao fototipo de cada pessoa em quantidade abundante, renovando de duas em duas horas, sem esquecer os lábios, orelhas, contorno dos olhos, mãos, pés e couro cabeludo de pessoas calvas.
Por outro lado, é importante ter conhecimento que em cerca de 90% dos casos de cancro da pele existe historial de exposição excessiva ao sol desde a infância e adolescência. É importante proteger os mais novos dos malefícios do sol, aplicando cremes com FPS adequados quer ao fototipo de pele, quer à idade.

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Arnaldo Valente

Dermatologista