Obesidade Infantil: uma epidemia no século XXI

data de atualização22 Fevereiro 2024 autor do artigo
Joana Sousa Teles  |  Psicóloga

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade infantil afeta cerca de 39 milhões de crianças com menos de 5 anos e cerca de 340 milhões entre os 5 e os 19 anos. Em 2022, 31,9% das crianças portuguesas entre os 6 e os 8 anos tinham excesso de peso, das quais 13,5% tinham obesidade. A obesidade é uma doença em que o excesso de gordura corporal acumulada pode atingir graus capazes de afetar a saúde. Este excesso de gordura resulta de sucessivos balanços energéticos positivos, nos quais a quantidade de energia ingerida é superior à quantidade de energia gasta.

A obesidade é uma doença crónica, sendo considerada a doença nutricional mais prevalente a nível mundial e considerada a epidemia do século XXI.

 

Causas da obesidade infantil

As causas da obesidade são multifatoriais, sendo a maioria dos casos de causa exógena (externa). Nas crianças, as síndromes genéticas e as doenças endócrinas são responsáveis apenas por 1% da obesidade infantil. Alguns estudos concluem existir 5% a 25% de responsabilidade genética na ocorrência de obesidade. Desta forma, o risco de obesidade é de 9% quando nenhum dos pais é obeso, 50% quando um dos progenitores é obeso e 80% quando os dois progenitores são obesos.

 

Alimentação e exercício físico

Contudo, a maior causa de obesidade infantil reside no comportamento alimentar e na falta de exercício físico. A maioria das crianças come demasiado e de forma desequilibrada. Fazem uma alimentação com baixo consumo de fibras (poucos vegetais e fruta), excesso de açúcar (refrigerantes, bolos, doces), excesso de ingestão de gorduras saturadas (batatas fritas de pacote, por exemplo) e excesso de sal.

A esta alimentação desequilibrada associa-se o sedentarismo e a reduzida prática de exercício físico, a qual pode ser atribuída à diminuição de espaços livres apropriados para atividades ao ar livre, por sua vez relacionado a um aumento da insegurança, fatores que favorecem a permanência em casa e ao aparecimento de atividades lúdicas mais sedentárias e acessíveis a uma grande parte da população, entre os quais os jogos eletrónicos e a televisão. Ainda segundo literatura recente, os ecrãs reforçam o estilo sedentário e promovem uma alimentação desequilibrada através da publicidade. Um estudo realizado pela DECO refere que a categoria dos produtos mais publicitados, durante a programação infantil, é a dos bolos e chocolates, alimentos ricos em açúcar e gordura.

 

Obesidade infantil: é urgente intervir

O tratamento implica alterações do estilo de vida a longo prazo. A intervenção terapêutica deve ser precoce, multidisciplinar, adaptada à idade e planeada com objetivos progressivos. As tentativas de modificações radicais dos comportamentos estão condenadas ao insucesso e são fonte de frustração e convidam ao abandono. O envolvimento ativo de todo o núcleo familiar parece essencial para que tenha sucesso a intervenção terapêutica.

 

Repercussões na saúde mental

As implicações da obesidade a nível psicológico, apesar de difíceis de quantificar objetivamente, são extremamente preocupantes. A discriminação social e a falta de autoestima do jovem obeso podem arrastar estados depressivos graves. As raparigas são mais propensas à morbilidade psicológica e o risco também aumenta com a idade.

As crianças e jovens obesos têm uma menor qualidade de vida: cansam-se com facilidade, têm dificuldade em mexer-se, é difícil comprarem roupa, têm baixa autoestima, podem ter dificuldades de relacionamento com os seus colegas ou serem descriminadas por estes.

É imprescindível o envolvimento da família e de todos os prestadores de cuidados às crianças e adolescentes na mudança de hábitos e comportamentos. O esforço de modificarmos o outro exige que nós mesmos nos modifiquemos primeiro. Se os pais mantêm hábitos alimentar incorretos os filhos tendem a copiá-los.

Autor do artigo

Joana Sousa Teles

Psicóloga

Anónimo
15 Julho 2019
Justo o que eu procurava, obrigada