Libido feminina após a Menopausa

data de publicação04 Setembro 2023 artigo revisto por
Denise Bacalhau  |  Ginecologista
A diminuição da libido feminina após a menopausa pode comprometer a saúde sexual e desencadear um quadro de ansiedade na mulher e no casal. Para compreendermos os efeitos da menopausa no desejo sexual feminino é importante perceber o que acontece ao organismo durante e após a menopausa e conhecer estratégias que possam preservar a saúde sexual e a qualidade de vida.
 
Sintomas da menopausa
A menopausa caracteriza-se pela ausência de ciclos menstruais durante um ano. Tipicamente, acontece entre os 45 e os 55 anos, e tem repercussões no organismo. Por um lado, os ovários deixam de produzir estrogénios (hormona), o que pode provocar uma queda do fluxo sanguíneo que, por sua vez, pode afetar a lubrificação e a elasticidade vaginal. Esta situação, se não for acautelada, pode provocar dor ou desconforto nas relações sexuais (dispareunia), contribuindo para uma diminuição da libido feminina. Por outro, cerca de um terço das mulheres com mais de 50 anos pode vir a sofrer incontinência urinária, sobretudo devido ao enfraquecimento da musculatura pélvica, situação que se reflete numa diminuição do desejo sexual feminino.
Acresce ainda como aspetos desmotivantes do desejo sexual os sintomas “típicos” da menopausa, como os afrontamentos, insónias ou o aumento do peso corporal, além de fatores externos como a toma de determinada medicação (antidepressivos, por exemplo) ou doenças crónicas existentes que também podem prejudicar a libido.
 
A importância de procurar ajuda
A libido feminina está também fortemente ligada também a processos psicológicos que têm a ver com a ansiedade. O cansaço do dia a dia, aliado ao fim da idade reprodutiva e tudo o que isso significa, são fatores que podem conduzir a um desgaste da saúde mental e, por vezes, à depressão. É fundamental tomar as rédeas da sua vida e procurar ajuda especializada. A menopausa faz parte da vida, assim como a sua saúde sexual. É importante derrubar ideias preconcebidas que possam comprometer a sua felicidade e qualidade de vida. E caso surjam desafios, é importante procurar um especialista que a possa ajudar ou encaminhar para uma solução.
 
Estratégias para preservar a libido feminina após a menopausa

• Terapêutica hormonal

Como já foi referido, a produção de hormonas ligadas à libido feminina decresce bruscamente na menopausa. No entanto existe medicação, denominada “terapêutica hormonal “, que visa melhorar a qualidade de vida da mulher. Esta terapêutica irá obedecer a uma estratégia desenhada pelo médico de acordo com as necessidades particulares de cada paciente e pode assumir a forma de comprimidos, adesivos, gel ou spray na pele, ou cremes ou óvulos introduzidos por via vaginal. Entre as indicações, e dependendo da medicação, inclui-se o tratamento da secura vaginal, do ardor ou dor durante as relações sexuais, entre outras indicações. No entanto, existem riscos potenciais que devem ser observados e tomados em consideração, entre os quais destacam-se o tromboembolismo venoso, doenças cardiovasculares e o cancro da mama. Por outro lado, esta estratégia terapêutica está contraindicada em pacientes com trombose ativa, doenças agudas do fígado, cancros hormonais ou hemorragia vaginal de causa não esclarecida. É fundamental discutir com o seu médico a viabilidade desta estratégia terapêutica.


• Utilização de lubrificantes

Se a secura vaginal for motivo de dor, ardor ou desconforto durante as relações sexuais, a utilização de lubrificantes à base de água pode ser uma boa (e simples) alternativa. É importante que o lubrificante usado seja à base de água, uma vez que, além de não comprometerem a correta utilização do preservativo, têm a vantagem de não promoverem a cultura de bactérias derivadas de eventuais infeções. Aliás, uma vez que na menopausa o sistema imunitário feminino pode estar mais fragilizado, a mulher poderá estar mais suscetível de infeções vaginais, nomeadamente infeções sexualmente transmissíveis, sendo por isso recomendada a utilização do preservativo. Se tiver alguma dúvida acerca do tipo de lubrificante que deve utilizar, o seu médico especialista será o profissional indicado para eventuais esclarecimentos.


• Fortalecimento da musculatura pélvica

O enfraquecimento da musculatura pélvica é mais comum em mulheres que tenham tido partos vaginais, sendo um problema que pode conduzir à incontinência urinária. Nesse sentido, é útil à mulher aprender a realizar exercícios de Kegel. Estes movimentos consistem em contrair os músculos que utiliza para parar de urinar. São de simples execução: contraia estes músculos durante 5 a 10 segundos, relaxando depois durante o mesmo período de tempo. Repita três vezes esta série e faça estes exercícios 10 vezes por dia. Os exercícios de Kegel ajudam a prevenir a incontinência urinária na medida que ajudam a fortalecer os músculos pélvicos. Caso tenha alguma dificuldade, contacte o seu médico ou entre em contacto com um Fisiatra no sentido de obter um plano de reabilitação do pavimento pélvico.


• Exercício físico e alimentação equilibrada

A adoção de hábitos saudáveis é essencial em todas as fases da vida. O exercício físico ajuda a controlar o aumento do peso e promove uma circulação sanguínea adequada, essencial para o bom funcionamento dos órgãos genitais. Por outro lado, promove a libertação de endorfina e serotonina (hormonas com influência na sensação de bem-estar), reduzindo deste modo os efeitos do stress crónico no organismo. Por outro lado, a escolha de uma alimentação equilibrada, de inspiração na Dieta Mediterrânica, é igualmente essencial para manter um peso saudável e a eficácia do sistema cardiovascular.


• Comunicação aberta

A menopausa não deve significar o fim do desejo sexual feminino. Todas as mulheres têm direito a uma saúde sexual que lhe traga qualidade de vida e bem-estar. Caso surjam desafios, é importante falar com o seu parceiro de forma aberta sobre o que lhe dá prazer. Por outro lado, alterar alguns hábitos pode ser benéfico para a saúde sexual do casal. Afinal, no final do dia, é normal que o cansaço coloque entraves ao desejo sexual (masculino e feminino). O importante é a atitude, o carinho e a certeza de que existem soluções para as dificuldades. Dê o primeiro passo, fale abertamente com o seu parceiro e procurem ajuda especializada se necessário.

Artigo revisto por

Denise Bacalhau

Ginecologista