A palavra Cyberbullying deriva de outra que é o Bullying, o termo utilizado para descrever atos de violência física ou psíquica, intencionais e repetidos, que são praticados por um indivíduo (o bully) ou por um grupo. O objetivo é agredir, intimidar ou humilhar outro indivíduo ou grupo, que se revela incapaz de se defender.
O Bullying ocorre num contexto em que existe um desequilíbrio de forças a favor dos agressores. Os bullies exibem comportamentos caracterizados pelo uso deliberado da agressão com a intenção de provocar sofrimento, através de dor física e/ou emocional. No Cyberbullying, este comportamento transita do espaço físico para o online, com consequências igualmente traumatizantes para a vítima.
Com a evolução das tecnologias de informação e comunicação, a Internet e os smartphones tornaram-se poderosas armas para o (cyber) Bullying, facilitando ataques à distância através das redes sociais ou do e-mail. O intuito dos agressores continua a ser ridicularizar e diminuir as suas vítimas, mas no caso do Cyberbullying, as agressões são permanentes no tempo e no espaço, múltiplas vezes repetidas, levando a que os espectadores deixem de ser apenas os colegas de escola e passem a ser os milhões de utilizadores que diariamente acedem à Internet. Contrariamente ao que acontece no Bullying físico, que tem um rosto e que se caracteriza por haver um mais forte contra um mais fraco, na Internet o agressor pode esconder-se no anonimato, a não sendo possível, muitas vezes, conhecer o seu perfil e características.
Ao contrário do que acontece no Bullying “tradicional”, em que a vítima pode encontrar proteção na família ou junto dos verdadeiros amigos, no espaço virtual não há descanso. As vítimas de Cyberbullying vêem as suas páginas pessoais nas redes sociais adulteradas, ou os seus contactos ou fotografias associadas a sites de pedofilia ou pornografia. Por vezes, são até realizadas fotomontagens ou vídeos em que a vítima aparece em situações humilhantes, posteriormente colocados online, em sites de partilha que funcionam como plataformas de encontro para os jovens, muitos deles ansiosos por ver novos vídeos.
Além da produção de vídeos e da divulgação de fotografias em situações comprometedoras para as vítimas, a prática do Cyberbullying concretiza-se também através de emails e mensagens escritas ofensivas e difamatórias, enviadas tanto para a vítima, como em cadeia para todos os amigos e colegas de escola.
Uma forma de travar este fenómeno passa pela responsabilização dos sites de partilha de vídeos e imagens, que deveriam desenvolver programas de barramento de conteúdos de cariz ofensivo mais eficazes, à semelhança do que acontece com os conteúdos pornográficos. Paralelamente é essencial que pais e educadores estejam mais atentos aos hábitos dos seus filhos ou educandos, acompanhando mais de perto as suas pesquisas na Internet, fornecendo sempre o suporte informativo, afetivo, ético e moral, que permita ao jovem fazer as opções corretas nas diversas situações da sua vida, tendo sempre por base o respeito pelos outros.
Os bullies atuam influenciados pelo estilo de vida e pelo contacto com a violência, seja através da televisão, Internet (redes sociais – Instagram, Tik Tok, Facebook, etc.), videojogos ou mesmo pelas relações familiares. Os comportamentos agressivos e hostis podem ser o resultado da exposição a certas atitudes e comportamentos em casa, nomeadamente, o uso habitual da punição física, que ensina que a agressividade é um modo aceitável de resolução de conflitos. A indiferença, ou mesmo uma atitude demasiado permissiva e tolerante em relação a episódios de violência (seja ela conjugal, entre pais e filhos ou entre irmãos) pode estar na origem dos comportamentos agressivos.
De uma forma geral, os jovens agressores não apresentam remorsos pela sua conduta porque sentem que têm uma justificação. A impulsividade e a revolta surgem aliadas à frustração, à falta de autoestima, ou mesmo ao medo, já que muitas vezes são eles próprios vítimas. A exposição contínua à violência cria no bully uma habituação que transforma a agressividade num comportamento natural. É o modo que conhece para resolver os problemas e que utiliza para chamar a atenção, uma vez que, muitas vezes, não se sente valorizado no círculo familiar, social e até escolar. Desta forma, o bully sente a necessidade de fazer os outros sentirem-se diminuídos para que ele se possa evidenciar.
Por outro lado, os bullies têm tendência para se distanciarem dos objetivos escolares, uma vez que passam a valorizar a violência como forma de poder. Se não for prevenida e alvo de intervenção na juventude, esta atitude pode evoluir e levar a uma projeção de comportamentos violentos na idade adulta.
Em todas as escolas encontram-se crianças que sofrem em silêncio os maus-tratos praticados pelos colegas. Raramente as vítimas de Bullying oferecem resistência, permanecendo caladas com medo de vingança. O carácter persistente do Bullying tem implicações negativas para as vítimas a nível imediato, mas também a longo prazo, sobrepondo-se os traumas psicológicos aos danos físicos. A vítima sente que a sua intimidade está permanentemente exposta e surgem frequentemente pensamentos negativos, por vezes culpabilizantes, além do peso de se sentir o centro de atenção constante de um público alargado.
Por norma, estas crianças têm fracas competências de socialização. São introvertidas, sentem-se muitas vezes excluídas e sem amigos em quem confiar e desabafar. Grande parte das crianças que sofrem Bullying tem graves dificuldades de concentração e atenção, afetando o desempenho e rendimento escolar. Todo este mal-estar, aliado a uma tristeza profunda e a uma depressão (que tende a evoluir), pode acarretar graves perturbações psicológicas que, quando levadas ao extremo, podem conduzir ao suicídio.
Estes fatores poderão projetar-se ao longo de toda a vida, marcando e influenciando decisões, comportamentos, a imagem que o jovem (depois adulto) tem de si próprio, dos outros e do mundo, podendo ainda conduzir à marginalização e à exclusão social.
Educar os jovens de hoje tem-se tornado um desafio. Os pais estão cada vez mais ocupados com o trabalho e dispõem de pouco tempo para acompanharem os filhos. Muitas famílias não conseguem educar os filhos emocionalmente, nem se encontram habilitadas para resolver conflitos pelo meio do diálogo e da negociação de regras. Acaba, muitas vezes, por se cair na arbitrariedade do não ou na permissividade do sim, não se oferecendo um referencial baseado no afeto, diálogo e tolerância.
Esta falta de tempo gera uma falta de acompanhamento e intervenção que conduz a que as novas gerações cresçam algo negligenciadas em certos campos, colocando em risco uma efetiva transmissão de valores sociais, afetivos, culturais, éticos e morais, fatores que contribuem para uma escalada de violência e desintegração social.
Deste modo, as condições para que o Bullying nas suas várias formas aconteça continuam a proliferar, sendo conhecidos cada vez mais casos de alunos que não querem regressar à escola porque foram de alguma forma violentados.
É urgente repensar o contexto escolar e familiar protagonizando políticas e campanhas antiBullying que envolvam toda a comunidade escolar, psicólogos, pais, professores, educadores e alunos, bem como toda a comunidade exterior onde a escola está inserida, demonstrando-se tolerância zero para com os comportamentos violentos.
Contornar os problemas não é o melhor modo de solucioná-los. É necessário trabalhar com os bullies, reconhecendo-lhes e demonstrando-lhes as suas boas qualidades e capacidades, atribuindo-lhes responsabilidades e tarefas que possam desempenhar e que os façam brilhar e tornarem-se referências positivas, sempre num contexto em que se exorta o bom comportamento. Tudo isto pode e deve ser realizado em casa e na escola. Mais importante do que ter uma visão pessimista sobre o Bullying é combatê-lo, conhecer as suas causas e consequências, conduzindo-nos à ação.
Quando é detetada a situação de Bullying na escola, é fundamental que as famílias sejam informadas e que os agressores e as vítimas sejam ouvidos sobre o sucedido, individualmente e sequencialmente, todos no mesmo dia, para evitar que a ocorrência ganhe outros contornos.
Os alunos devem ser capazes de analisar a situação, identificar o problema e os comportamentos desadequados, e propor formas de o resolver. É, no entanto, também essencial que esses encontros sejam prolongados durante algum tempo, de forma a que o professor e a equipa multidisciplinar possa acompanhar e direcionar vítimas e agressores no seu percurso de restabelecimento da ordem, sendo mesmo desejável o encontro em grupo numa terceira fase, já posterior, onde todos os intervenientes compareçam e comprovem o sucesso da iniciativa.
Para reduzir os comportamentos violentos e de Bullying é necessário que os alunos compreendam e conheçam as definições de violência e Bullying, assim como as suas possíveis manifestações (de que o Cyberbullying é exemplo). Os comportamentos violentos têm de ser substituídos por atitudes baseadas no respeito e numa salutar convivência social.
As medidas ou estratégias a ser seguidas podem ser aplicadas a diversos níveis:
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