Como gerir a Ansiedade nas Crianças

data de publicação15 Setembro 2023 autor do artigo
Patrícia Rebelo  |  Psicóloga Clínica

A ansiedade é uma emoção natural que as pessoas experienciam ao longo de toda a vida. É uma reação emocional ao perigo e à ameaça e é uma resposta saudável do corpo. Acaba por ser um mecanismo de defesa do corpo em relação ao perigo. No entanto, em algumas situações, as pessoas experimentam a preocupação, a tensão derivada da ansiedade, a angústia e a insegurança com sofrimento físico e com sofrimento psicológico. E é aí que começamos a definir a ansiedade como um problema, como uma possível patologia. Na primeira infância a ansiedade é vivida sobretudo sob a forma de medos e sobre a forma de imaginário, quando crescem e ficam mais perto da adolescência começam a ser as preocupações em relação ao futuro.
 

Sintomas de ansiedade nas crianças

Os principais sintomas que as crianças apresentam, que alguns são semelhantes aos dos adultos, outros que nelas são mais vincados, são sintomas muitas vezes fisiológicos. Começam por ter dores de barriga, começam a ter vómitos, começam a dormir mal ou a comer mal, muito coisas que têm a ver com as tarefas do seu quotidiano. A ansiedade é um problema porque afeta a funcionalidade diária, mas acaba por ser uma forma de mascarar ou evidenciar um problema que está na base. É como se fosse um iceberg, em que temos na ponta o comportamento manifesto, portanto temos a ansiedade a aparecer com estes sinais que eu já referi, e por baixo temos coisas que estão aqui a contaminar e que são realmente os motivos, ou o que favorece que esta ansiedade apareça. Nas crianças estão principalmente relacionadas com a sua exigência perante a vida e pela realidade que é transmitida muitas vezes através da família, da escola, a nível cultural e social.


3 orientações para os pais

Como orientações, sugiro que uma das primeiras coisas a fazer com as crianças é  ajudá-las a situar e a compreenderem esta realidade e perceberem que estão a sofrer de ansiedade mas que a podem controlar. E que podem contrariar estes padrões de funcionamento e de crenças distorcidas da realidade. Que o medo pode existir, mas na verdade é um medo que não é real. E dizer-lhes também que “são capazes!” De dizer “eu consigo!”, “eu sou capaz!” , vamos controlar, e juntos, potenciar que haja estratégias em conjunto. Se conseguirmos reduzir a quantidade de hormona da ansiedade, portanto, de cortisol que é lançado no sangue, vamos conseguir atenuar os sintomas e vamos conseguir que a criança consiga racionalizar de outra forma.
A segunda orientação que tenho para este problema ligado à ansiedade nas crianças é ajudar as crianças a desconectar de um mundo extremamente acelerado e que tem muitas exigências. Penso que é importante as crianças terem um tempo de paragem, tempo de ócio, tempo em que não fazem nada, em que é “aborrecido” mas que se treina esse aborrecimento, a resistência e a resiliência e a capacidade de lidar com estes maus-estares que vamos sentindo. Poder ter atividades de lazer, como por exemplo, a meditação, o yoga, também as atividades desportivas ou até mesmo as mais simples em que temos tempo de qualidade com os nossos filhos.
A terceira orientação que eu vos deixaria seria mais dirigida aos pais na forma como lidam com os seus filhos. Não colocar tanta exigência, não estar tão focados no futuro, não viver tanto esta sociedade que acelera e que nos faz estar sempre (pré)ocupados da realidade que depois traz as preocupações, deixar fluir o desenvolvimento das crianças, estar atentos, efetivamente a alguns sinais de alarme, pedir ajuda sempre que necessário, mas tentar aligeirar no que diz respeito à exigências do amanhã.
Em resumo, eu diria que é muito importante os pais continuarem a focar-se no presente, e verem esta problemática como algo que faz parte da vida das crianças e que vai acompanhá-las ao longo do seu processo de crescimento, e que, como tal, devem com a sua sensibilidade e estando atentos aos sinais que as crianças forem dando e que, se forem sinais que permanecem no tempo e se manifestam em vários contextos, procurar a ajuda necessária e procurar os técnicos para acompanhar porque, efetivamente, vai ser um processo em que vão conseguir terminar mais felizes, mais fortes e em maior equilíbrio.

Autor do artigo

Patrícia Rebelo

Psicóloga Clínica