Por Atividade Física entende-se todo o movimento que fazemos quando caminhamos, subimos escadas ou realizamos, por exemplo, tarefas domésticas. Por oposição, todos os dias passamos muitas horas em “inatividade física" sentados em cadeiras, poltronas e sofás, ou mesmo em movimento, no carro, em assentos desenhados com um propósito: manter-nos confortáveis. É um sinal de uma sociedade que transitou nas últimas décadas para um estilo de vida cuja “inatividade física” ocupa cada vez mais horas do dia. Esse estilo de vida contraria milhões de anos de evolução do corpo humano que foi “desenhado” para se mover, com as consequências evidentes na saúde fruto do crescente sedentarismo da nossa sociedade.
Há muito que se fala das consequências que o sedentarismo acarreta – do aumento da predisposição a problemas cardíacos, acidente vascular cerebral, diabetes ou uma maior incidência de aterosclerose, entre inúmeros outros riscos – algo que tipicamente tentamos combater com exercício físico (conceito diferente de atividade física), seja ele ginásio ou um jogo de uma qualquer modalidade praticada com amigos. Contudo, vários estudos revelam que, mesmo praticando cerca de 150 minutos semanais de exercício físico, tempo considerado como o recomendado por várias guidelines internacionais, o risco de perturbações metabólicas permanece mesmo em pessoas que não identificaríamos, à partida, como “sedentárias”. Ou seja, a prática de exercício físico não é suficiente para equilibrar o tempo sentado.
Ao movimentar-se o corpo humano consome energia para 3 propósitos:
Se tivermos em consideração que ingerimos cerca de 2100 kcal por dia (valor recomendado para um adulto), podemos fazer uma comparação de gastos energéticos com vários tipos de atividade profissional:
Se tivermos em consideração que uma corrida de 10 km consome “apenas” 700 kcal, podemos visualizar um enorme desequilíbrio entre o número de calorias ingeridas e gastas em pessoas que têm um trabalho sentado em frente a um computador, mesmo que corram todos os dias uma mini-maratona.
Quando estamos em pé, existem milhares de minúsculas contrações realizadas por “músculos posturais”, estruturas especializadas que demonstram resistência à fadiga. Estes músculos, além de consumirem calorias quando nos movimentamos, ativam uma enzima denominada Lipoproteína Lipase (LPL). A LPL permite, não só que o músculo absorva gordura e a utilize como “combustível” enquanto mantém a postura, como ajuda também na regulação do “bom colesterol” HDL, facilitando a decomposição da gordura presente em vários pontos do corpo pelo fígado.
Outra particularidade da enzima LPL é que é mais ativada pelos “músculos posturais” do que pelos músculos utilizados num exercício físico de intensidade moderada. Apenas realizando exercício físico intenso os níveis de LDL se equiparam aos de andar, subir escadas ou, simplesmente, passar mais tempo em pé. Aqui está outro argumento para a importância de nos mantermos ativos fisicamente, sem que com isso deixemos de ter presente a importância do exercício físico e dos seus benefícios para a mente e corpo.
Dito isto, as pessoas que trabalham sentadas e que praticam (e ainda bem) exercício, não deixam de ter a sua saúde em risco. É necessário uma variedade entre atividade física e exercício físico.
Uma das questões que se colocam é: será que ainda iremos passar mais tempo sentados no futuro? A evolução tecnológica e as permanentes facilidades e comodismos que esta era moderna nos fornece são muitas e tentadoras. Porém, esta capacidade que temos para criar, costuma pender para os dois lados da balança.
De momento existem dois problemas: por um lado, apenas nos últimos 10 anos é que a evidência científica tem motivado “recomendações de atividade física” por parte das autoridades de saúde competentes; por outro, a tradicional resistência à mudança típica da espécie humana, sobretudo em algo tão sensível (e apetecível) como o conforto pessoal, pode colocar mais pessoas em risco nos anos vindouros.
Mas lembremo-nos dos hábitos de algumas personalidades brilhantes do passado para nos alumiar o futuro: Benjamin Franklin, Winston Churchill ou Ernest Hemingway eram pessoas que passavam vários períodos ao longo do dia em que trabalhavam propositadamente de pé. Que nos sirva de inspiração.
A Dra. Carla Vera-Cruz, Fisiatra na Cintramédica, explica-nos os benefícios da atividade física nos idosos e a prática de exercício físico nestas idades.