Regresso às aulas: saúde visual nas crianças

data de publicação02 setembro 2024 autor do artigo
Dr. Ricardo Bastos Amorim  |  Oftalmologista
A saúde visual é fundamental para o desenvolvimento académico das crianças em idade escolar, uma vez que grande parte do conhecimento adquirido é através da visão. Cerca de 25% das crianças em idade escolar apresentam problemas de visão. Muitas vezes, esses problemas de visão passam despercebidos pelos pais, não sendo diagnosticados ou tratados precocemente. 
 
Problemas visuais comuns
Problemas de refração como miopia, hipermetropia ou astigmatismo, podem prejudicar a capacidade de leitura, escrita e de concentração, interferindo assim com o rendimento escolar. Algumas vezes esses problemas são detetados pelos Professores, quando notam que as crianças precisam de se aproximar do quadro para conseguirem copiar o conteúdo ou apresentam dificuldades em focar as letras dos livros.

Sinais e sintomas que os Pais podem observar / estar atentos:
  • Semicerrarem os olhos para lerem ou verem televisão
  • Queixas de dor de cabeça, principalmente ao final do dia
  • Olhos vermelhos ou lacrimejantes
  • Desvios oculares visíveis, como um olho virado para dentro ou para fora (estrabismo)
  • Esfregar os olhos constantemente ou inclinar a cabeça ao olhar para algo
     
Porém, alguns problemas de visão não apresentam sintomas específicos numa fase precoce. E muitas vezes as crianças com problemas de visão, não conseguem exprimir-se, nem se queixarem aos Pais que veem mal, pois não possuem a perceção que está algo de errado, uma vez que sempre viram o mundo dessa forma. Outras vezes, veem bem de um olho e não têm noção que o outro olho vê mal, tendo aquilo a que se chama de “olho preguiçoso” (ambliope), podendo esse olho ficar permanentemente “preguiçoso” se não for tratado atempadamente! 

Realizar um check-up regular é fundamental. Além dos rastreios de saúde visual realizados em consultas de Pediatria ou de Medicina Geral e Familiar, é importante que ocorra uma Consulta de Oftalmologia Pediátrica por volta dos 3 anos de idade e na altura da entrada do 1º ciclo (cerca dos 6 anos de idade). Se houver suspeita de problemas oculares, essa consulta de Oftalmologia Pediátrica deverá ser realizada antes.
 
Influência do uso das tecnologias
O uso prolongado de computadores, tablets e smartphones pode levar a fadiga visual, olhos secos e sensação de desconforto visual. É importante realizar pausas com alguma frequência ao usar estes equipamentos, a regra 20-20-20 [a cada 20 minutos de uso de ecrãs, olhar para algo a 6 metros de distância (20 pés) por 20 segundos] poderá ajudar a prevenir alguns desses sintomas. Uma boa postura e uma iluminação adequada durante a leitura também são importantes para prevenir a fadiga ocular. 

A exposição prolongada à luz azul emitida por ecrãs pode afetar o ciclo circadiano e o sono. Poderá ser útil em alguns casos, o uso de filtros de luz azul ou o ajuste do brilho nos ecrãs. Os pais deverão ter em conta que crianças e adolescentes não devem ficar expostos a ecrãs, pelo menos até uma hora antes de se deitarem.

Já vários estudos demonstraram que o aumento da exposição aos ecrãs leva ao desenvolvimento de miopia em crianças e adolescentes. Estimular as crianças a brincar ao ar livre poderá ajudar na prevenção, por exemplo, da progressão da miopia.
 
Uso de produtos cosméticos em idade escolar
Cada vez mais se tem verificado um uso generalizado de produtos cosméticos em crianças e adolescentes, os quais provocam muitas vezes alergias mesmo quando se apresentam como indicados para essa faixa etária. Caso se observe o aparecimento de olhos vermelhos, irritados ou sensação de comichão após o uso de cosméticos, deverão lavar bem o rosto e remover toda a maquilhagem.
 
Cuidar da saúde visual das crianças
Manter a saúde visual das crianças é uma tarefa que requer atenção dos pais, educadores e profissionais de saúde. Intervenções precoces e hábitos saudáveis são fundamentais para garantir que as crianças possam explorar e interagir com o mundo ao seu redor de forma plena e segura.

Autor do artigo

Ricardo Bastos Amorim

Oftalmologista

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