Quais os melhores nutrientes e alimentos para quem tem hipotiroidismo e hipertiroidismo?

data de publicação24 Maio 2022 autor do artigo
Isabel Manita  |  Endocrinologista

O hipotiroidismo e o hipertiroidismo são os principais distúrbios da tiroide e levam a que se tenha de ter especiais cuidados com a alimentação. Se, por um lado, o hipotiroidismo é a falta de hormona da tiroide, o hipertiroidismo caracteriza-se pelo seu excesso. Ambas as condições provocam sintomas praticamente opostos. O diagnóstico precoce e o início do tratamento destas doenças é a chave para o controlo dos sintomas e para a manutenção da qualidade de vida. No entanto, há que completar a terapêutica com opções alimentares conscientes e que reflitam as necessidades particulares de quem tem um distúrbio da tiroide.
 

Consumo de iodo: importância e cuidados a ter

Este micronutriente é essencial para a síntese das hormonas da tiroide. É um elemento obtido, sobretudo, através da alimentação. A Organização Mundial da Saúde considera a carência deste nutriente como a principal causa mundial evitável de doenças mentais e do desenvolvimento, estimando que cerca de 13% da população mundial esteja afetada por doenças causadas pela falta de iodo.
Por outro lado, também o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) defendeu a importância do reforço da alimentação com sal iodado em período de confinamento.
O consumo de iodo deve ser reforçado na gravidez e nas mulheres que estão a amamentar de modo a garantirem um bom aporte diário. Assim, apresentamos aqui as Doses Diárias Recomendadas de iodo e quais os alimentos onde pode encontrar este nutriente em maior quantidade (µg = microgramas):

Dose Diária Recomendada de iodo por dia:

  • Crianças dos 0 aos 5: 90 µg/dia
  • Crianças dos 6 aos 12: 120 µg/dia
  • Adultos: 150 µg/dia
  • Gravidez: 250 µg/dia
  • Lactação: 250 µg/dia

Alimentos com maior teor de iodo (em microgramas/100g):

  • 1g sal iodado: 10-40µg/100g
  • Atum, cavala, ostra: 50-60 µg/100g
  • Camarão: 130µg/100g
  • Bacalhau fresco: 170µg/100g
  • Sardinha e mexilhão: 95-100µg/100g

Fonte: https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/viewFile/44/46

No entanto, em casos de hipertiroidismo, o iodo é um nutriente que deve ser evitado, uma vez que pode exacerbar os sintomas típicos desta doença autoimune.
Por outro lado, em casos de hipotiroidismo confirmado, a ingestão deste nutriente não substitui a medicação com levotiroxina. No caso de mulheres grávidas com hipotiroidismo, não precisam de fazer suplementação de iodo uma vez que a medicação com levotiroxina já contém iodo em quantidade suficiente.
Apesar de não haver evidências científicas acerca das causas dos distúrbios da tiroide, é aconselhável o consumo de iodo de modo preventivo, sendo que muitos países optam pela recomendação da inclusão na alimentação de sal iodado.
 

Selénio: micronutriente essencial

Tal como o iodo, este nutriente também é muito importante para a produção de hormona da tiroide e a sua fonte é praticamente só obtida através da alimentação. A suplementação de selénio em pessoas com doença de Graves (hipertiroidismo autoimune) poderá ter um efeito benéfico no tratamento da oftalmopatia de Graves ligeira.

Alimentos ricos em selénio:

  • Castanha do Brasil
  • Bacalhau
  • Carne
  • Laticínios
  • Ovos
  • Sementes de chia ou de girassol

O INSA refere ainda que uma porção de bacalhau pode contribuir com 100% da DDR de selénio.
 

Cálcio e vitamina D

Para algumas pessoas com hipertiroidismo tem-se verificado alguns distúrbios na massa óssea. O hipertiroidismo não controlado e após anos sem tratamento, pode originar osteopenia e osteoporose. Nesse sentido, pode ser vantajoso reforçar a alimentação com alimentos que tenham estes nutrientes. Destacamos:

Ricos em cálcio:

  • Espinafres
  • Feijão branco
  • Laticínios
  • Bebidas fortificadas com cálcio

Ricos em vitamina D:

  • Fígado de vaca
  • Peixes gordos como salmão, atum ou sardinha
  • Bebidas fortificadas com vitamina D

Por outro lado, para quem tem hipotiroidismo deve ter algum cuidado com a ingestão de cálcio, uma vez que pode ter interferência com a absorção do medicamento para o hipotiroidismo. A ingestão de cálcio deve ser à noite para não haver interferências com a toma de levotiroxina em jejum.
 

Especiais precauções para quem tem hipotiroidismo

A manutenção de uma dieta equilibrada, variada e fracionada é a melhor recomendação para quem tem hipotiroidismo.
No entanto, existem alguns alimentos, suplementos e medicamentos que podem interferir com a absorção da medicação para o hipotiroidismo (levotiroxina). Por esse motivo, a ingestão destes alimentos, suplementos e medicamentos deve ser feita entre 4 a 7 horas da toma da medicação.
São eles:

  • Nozes
  • Farinha de soja
  • Suplementos alimentares com ferro
  • Suplementos alimentares de cálcio
  • Antiácidos que contenham alumínio, magnésio ou cálcio
  • Alguns medicamentos para úlceras com sucralfato
  • Alguns medicamentos para baixar os níveis de colesterol contendo colestiramina e colestipol

O papel de outros nutrientes na tiroidite de Hashimoto, uma das formas mais frequentes de hipotiroidismo, também tem sido referenciado:

  • Ter uma dieta pobre em glúten e em lactose pode ter efeitos benéficos
  • Deve ser evitado o consumo elevado de gorduras animais
     
Alimentos a evitar quando tem hipertiroidismo

O principal é evitar a ingestão de alimentos ricos em iodo, como peixes, mariscos, ou bivalves, assim como sal iodado ou outros alimentos reforçados com este micronutriente.
Por outro lado, deve ser evitado também o consumo exagerado de café, chá e outros alimentos e bebidas com cafeína.


Referências:
https://adti.pt/2018/04/30/alimentacao-e-tiroide-quais-as-melhores-opcoes/
https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/hypothyroidism/expert-answers/hypothyroidism-diet/faq-20058554
https://www.healthline.com/health/hyperthyroidism-diet
https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/convidados/suplementar-com-iodo-6226442.html
https://www.insa.min-saude.pt/a-utilizacao-do-sal-iodado-em-tempos-de-confinamento/
http://repositorio.insa.pt/bitstream/10400.18/4123/3/observacoesNEspecia8-2016_artigo2.pdf
https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/viewFile/44/46
https://www.btf-thyroid.org/iodine-and-thyroid

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Isabel Manita

Endocrinologista