O que é a Doença de Alzheimer?

data de atualização19 Setembro 2023 artigo revisto por
João Pedro Peres  |  Neurologista

A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que se manifesta através da deterioração cognitiva e memória de forma progressiva, alterações comportamentais e sintomas neuropsiquiátricos, comprometendo as atividades do dia a dia. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença de Alzheimer pode contribuir para 60 a 70% de todos os casos de demência.


Progressão da Doença de Alzheimer





As mudanças estruturais no cérebro, como a presença de tranças neurofibrilares, placas neuríticas e alterações do metabolismo amilóide, bem como alterações nos neurotransmissores - que transportam sinais entre as células - levam à degeneração neurológica e, por conseguinte, à perda de funções e capacidades consoante a parte do cérebro afetada.

Principais sinais e sintomas:
  • Alterações de memória
  • Perda de noção do tempo e do local onde se encontra
  • Alterações na linguagem
  • Dificuldades em manter uma conversa sem divagar ou parar
  • Pouca capacidade de discernimento
  • Perda de iniciativa
  • Mudanças de humor e personalidade
  • Incapacidade em compreender orientações
  • Trocar o lugar das coisas
  • Dificuldade na realização de tarefas diárias em casa, no trabalho ou nos tempos livres
  • Dificuldade na resolução de problemas

Num estadio moderado da doença a pessoa pode ainda viver quase independentemente. No entanto, pode necessitar de auxílio em algumas atividades diárias para potenciar a autonomia e segurança.

É também essencial despistar outro tipo de doenças antes de ser feito o diagnóstico. Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), deficiências nutricionais, infeções ou tumores cerebrais podem eventualmente causar este tipo de sintomas.


Envelhecimento ou Sinais de Alerta?

Por vezes é difícil distinguir sinais de envelhecimento natural de sinais de doença de Alzheimer. Há aspetos que são característicos do envelhecimento natural como por exemplo a perda de memória. No entanto, quando estes sinais começam a afetar a rotina e as atividades diárias, podem estar a refletir os primeiros sinais de demência.

Envelhecimento natural

  • Ter uma vaga lembrança de um acontecimento
  • Manter a capacidade de seguir indicações
  • Esquecer nomes ou palavras mas recordá-las mais tarde
  • Manter a capacidade de realizar atividade da vida diária como comer, lavar-se ou vestir-se apesar das limitações físicas
  • Tomar uma decisão errada pontualmente
  • Cometer erros ocasionais (ao efetuar um pagamento, por exemplo)
  • Ficar confuso com o dia da semana em que se encontra, mas depois lembrar-se
  • Esquecer-se pontualmente de qual palavra usar
  • Perder um objeto mas conseguir encontrá-lo através do raciocínio lógico

Sinais de Alzheimer

  • Esquecer-se de parte ou da totalidade de um acontecimento
  • Perder progressivamente a capacidade de seguir indicações escritas ou verbais
  • Perder a capacidade de seguir a história de um filme, novela ou livro
  • Esquecer a informação de dados históricos ou políticos que conhecia
  • Perder a capacidade de realizar atividades da vida diária como comer, lavar-se ou vestir-se
  • Perder progressivamente a capacidade de tomar decisões
  • Perder a capacidade de gerir o seu orçamento
  • Não saber a data ou estação do ano em que está
  • Dificuldade em manter uma conversa, quebrando o raciocínio ou esquecendo-se de palavras
  • Esquecer-se do local onde guardou um objeto e não conseguir fazer o processo reconstrutivo para se lembrar

Adaptado do artigo Sinais de Alerta para um Diagnóstico Precoce da Alzheimer Portugal 

 

Diagnóstico da doença de Alzheimer

Não existe um teste específico para diagnosticar a doença de Alzheimer. Por isso, o diagnóstico preciso do tipo de demência pode ser um processo desafiante tanto para o médico de família como para os especialistas. A avaliação inicial do utente deve ser individual e deve ter em consideração:
 

História clínica: perceber quando se iníciaram os sintomas, grau de progressão e padrão de declínio cognitivo, assim como averiguar sobre sintomas comportamentais e alucinações. É fundamental recolher esta informação através do utente e do cuidador/familiar mais próximo.

Exame físico: procura despistar alterações neurológicas, sensoriais e cardiovasculares. Devem também ser consideradas outras causas reversíveis de declínio cognitivo ou alterações comportamentais.

Exames laboratoriais e outros: realização de análises ao sangue e urina. Em determinados casos, poderá também ser necessária a realização de exames de Imagiologia especializados como raio-X, TC/TAC, Ressonância Magnética, entre outros.

Avaliação cognitiva: deve ser feita através de testes específicos. Na interpretação dos resultados é necessário ter em consideração aspetos como as habilitações, linguagem, audição e cultura da pessoa avaliada.

Revisão de medicação: determinados fármacos podem ter como efeitos secundários alterações cognitivas. A avaliação realizada por um Psiquiatra poderá ser importante para detetar patologias e sintomas subjacentes à doença de Alzheimer, como por exemplo a depressão, ansiedade e delírios. Se a doença for diagnosticada precocemente, a pessoa e a sua família poderão planear e tomar decisões mais informadas sobre o seu futuro.

O papel dos cuidadores é extremamente importante durante todo o processo de diagnóstico, prognóstico e terapêutica. Ser cuidador é desgastante, pelo que existem associações e profissionais de saúde que podem ajudar no processo de adaptação e na continuidade dos cuidados que se deve ter com o doente.

Tratamento

Apesar de não existir cura para a doença de Alzheimer, existem tratamentos que atenuam e controlam os sinais e sintomas, contribuindo para a autonomia e segurança da pessoa, facilitando a sua adaptação à doença.

Dependendo dos sinais e sintomas apresentados, o médico pode aconselhar terapêutica farmacológica para controlar ou diminuir o impacto desses sintomas na vida diária. É determinante que tanto o doente como os cuidados estejam informados dos efeitos secundários da medicação prescrita.

A terapêutica não farmacológica consiste num conjunto de intervenções e desempenha um papel muito importante na estimulação cognitiva, no sentido de preservar a autonomia e bem-estar da pessoa o mais tempo possível.

Atividades aconselhadas:

  • Atividade física
  • Envolvência social - atividades recreativas
  • Jogos de raciocínio
  • Terapia por assistência animal
  • Estimulação multissensorial: aromaterapia, massagem, musicoterapia, terapia de orientação para a realidade, entre outros

O estadio da doença de Alzheimer, os sintomas e sinais apresentados, o tipo de colaboração da pessoa com a doença e também dos seus cuidadores são aspetos que devem sempre ser considerados quando aconselhadas medidas terapêuticas.

Artigo revisto por

João Pedro Peres

Neurologista