A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é uma patologia caracterizada por limitação persistente do fluxo aéreo. Trata-se de uma doença inflamatória crónica, progressiva, das vias aéreas e pulmões, cujos sintomas são dificilmente reversíveis. Na maior parte das vezes, a DPOC está diretamente relacionada com a prevalência do tabagismo, pelo que deixar de fumar é a medida preventiva mais importante.
Fique a saber quem são as pessoas mais vulneráveis, as formas de prevenção, como se diagnostica a doença e as suas complicações e abordagens terapêuticas.
Estas eram as estimativas da Sociedade Portuguesa de Pneumologia para Portugal, em 2019. A mesma sociedade científica aponta ainda para o encargo na saúde que esta patologia significa, uma vez que é considerada a 3ª causa de morte e a 5ª causa de incapacidade a nível mundial.
Quase 90% destes 800 mil doentes foram (ou são) fumadores. De acordo com o Programa Nacional de Prevenção da DPOC, da Direção-Geral da Saúde, 1 em cada 5 fumadores vai desenvolver, ao longo da vida, uma doença respiratória obstrutiva crónica, com tendência progressiva, ou seja, uma patologia que vai ter impacto na sua sobrevivência e na qualidade de vida.
Uma vez que a maior parte de fumadores são homens, a DPOC tem sido mais frequente no sexo masculino. No entanto, nos últimos anos, a DPOC tem aumentado no sexo feminino, uma vez que o número de mulheres fumadoras tem aumentado nos últimos anos.
Existem outras causas para o desenvolvimento da DPOC, mas sendo uma doença maioritariamente relacionada com os hábitos tabágicos, de prevalência crescente, e com um significativo impacto clínico, deixar de fumar é uma prioridade.
Ao inspirarmos, o ar entra pelo nariz, passa pela faringe, laringe, traqueia e é dirigido através de “dois canais”- brônquio principal direito e brônquio principal esquerdo - para dentro dos pulmões. Dentro de cada pulmão, os brônquios principais ramificam-se como uma árvore em bronquíolos e terminam em pequenos “sacos” denominados alvéolos. Dentro dos alvéolos existem vasos capilares que têm uma dupla função: permitem a entrada de oxigénio na corrente sanguínea e libertam o dióxido de carbono produzido pelas células do organismo.
Quando existe uma exposição prolongada a fumos tóxicos, como o do tabaco, dá-se uma inflamação nas pequenas vias aéreas (bronquíolos) e alvéolos. Esta inflamação diminui a espessura dos bronquíolos, perdendo-se alguma elasticidade alveolar. Por outro lado, dá-se também a destruição dos suportes que unem a parede alveolar à parede dos bronquíolos. Esta destruição dos alvéolos e das paredes alveolares é designada por Enfisema Pulmonar.
Nos brônquios a inflamação é manifestada por aumento de secreção de muco e consequente obstrução da passagem de ar, que origina acessos de tosse crónica para desbloquear as vias aéreas, sintoma típico da Bronquite Crónica.
A DPOC engloba o Enfisema Pulmonar e a Bronquite Crónica. A grande maioria dos casos de DPOC são provocados pela exposição ao fumo do tabaco de forma ativa ou passiva, pela poluição atmosférica e pela inalação de pó ou outros agentes tóxicos ambientais, por vezes em contexto profissional. Existe ainda uma condição pouco frequente e genética, causada por défice da proteína alfa 1-antitripsina, que também pode provocar DPOC.
A doença instala-se lentamente e de forma progressiva. Por esta razão, muitas vezes o doente só recorre ao médico numa fase já mais avançada da doença.
Inicialmente a sintomatologia manifesta-se por tosse acompanhada de expetoração, à qual habitualmente não se dá muita importância. Posteriormente, surgem as intercorrências infecciosas do foro respiratório e episódios de agudização da Bronquite Crónica ou do Enfisema, progressivamente mais frequentes. Surge o cansaço fácil, inicialmente após o esforço, sintoma que se vai acentuando ao longo do tempo. A partir de determinada altura, a pessoa sente-se exausta, até com a realização de pequenas tarefas, como a higiene diária ou a fala.
Entre os sintomas mais frequentes destacam-se:
Apesar dos sintomas, durante algum tempo, os pulmões vão conseguindo, com maior ou menor dificuldade, levar o oxigénio ao sangue e eliminar o excesso de dióxido de carbono. Mas à medida que a doença evolui, a função pulmonar fica comprometida, não deixando libertar o dióxido de carbono. A esta alteração das trocas gasosas entre o pulmão e o sangue dá-se o nome de Insuficiência Respiratória.
O cenário está longe de ser animador para a pessoa com DPOC. Esta doença está, direta ou indiretamente relacionada com várias complicações que, no extremo, podem ameaçar a vida. Entre as principais destacam-se:
Os doentes com DPOC estão mais vulneráveis a constipações, gripes e pneumonias. Qualquer infeção respiratória pode levar a dificuldade respiratória e provocar aumento das lesões no tecido pulmonar e consequente agravamento dos sintomas da doença, por episódios denominados exacerbações.
As doenças cardiovasculares estão frequentemente associadas a DPOC. Dados epidemiológicos sugerem que os doentes com DPOC apresentam um maior risco para as doenças cardiovasculares. A DPOC parece diminuir os anos de vida dos doentes com insuficiência cardíaca. O risco de desenvolver Insuficiência Cardíaca nos doentes com DPOC é cerca de 4,5 vezes superior aos doentes sem DPOC.
A evidência científica tem demonstrado que há uma prevalência superior de cancro do pulmão em doentes com DPOC.
A DPOC pode provocar hipertensão nas artérias pulmonares, que levam o sangue aos pulmões, chamada Hipertensão Pulmonar. Esta condição clínica, predispõe ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca direita com aumento do risco de mortalidade.
A dificuldade em respirar, as infeções respiratórias e as exacerbações frequentes, têm impacto na saúde mental e na qualidade de vida do doente. A incidência de depressão relaciona-se com a gravidade da DPOC e a sua presença agrava a evolução da doença pulmonar.
O diagnóstico é realizado com base na história clínica, identificação dos fatores de risco (exposição ambiental, tabagismo…), observação e exames complementares de diagnóstico.
Os sintomas mais frequentes são:
Os exames complementares de diagnóstico a realizar para confirmação de DPOC são:
Em termos de prevenção, é essencial que uma pessoa com DPOC deixe de fumar. A desabituação tabágica, com apoio de medicamentos substitutos da nicotina e outras medidas de cessação tabágica, aconselhados pelo médico, poderão ajudar. Deve também evitar frequentar locais onde esteja exposto ao fumo (tabagismo passivo).
Por outro lado, esta é uma doença que contribui para a diminuição das defesas da pessoa, tornando-a mais vulnerável a infeções por vírus sazonais ou infeções bacterianas. Deste modo, é fundamental a vacinação contra a gripe sazonal, a COVID-19 e a vacina pneumocócica.
Além de deixar de fumar e seguir a vacinação recomendada, como medidas de prevenção, há tratamento farmacológico e não farmacológico.
Broncodilatadores, que são preferencialmente usados de forma inalada e melhoram a dificuldade respiratória, através da dilatação dos brônquios obstruídos.
Corticosteroides, com indicação criteriosa, para reduzir a inflamação das vias aéreas
Inibidor da Fosfodiesterase-4, para diminuir a inflamação, indicado sobretudo em casos de formas graves da DPOC, com exacerbações frequentes e sintomatologia compatível com bronquite crónica
Teofilina, que está indicada se não houver outros broncodilatadores de longa duração de ação com bons resultados
Mucolíticos, para fluidificar a expectoração e melhorar a tosse produtiva
Finalmente, alguns doentes com DPOC beneficiam de abordagens cirúrgicas, como:
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