As crianças e os adolescentes precisam de se mexer e fazer desporto - a Fisioterapeuta explica

data de publicação12 Setembro 2022

A escolha de qual o melhor desporto para as crianças é um assunto que volta à agenda das famílias no regresso às aulas depois das férias grandes. No entanto, e uma vez que a inatividade física em idade pediátrica é uma realidade, começam a aparecer fragilidades musculares nas crianças e adolescentes nas consultas de Fisiatria que justificam a intervenção da Fisioterapia.

Suzana Parente, Fisioterapeuta e Coordenadora do Serviço de Fisioterapia da Cintramédica, alerta para alguns dos principais problemas musculares que verifica, fruto da inatividade física na infância, nomeadamente uma condição denominada síndrome femeropatelar. Leia a entrevista para saiber o que pode fazer para prevenir estas lesões nas crianças e adolescente e como a prática de desporto pode ajudar a traçar um futuro mais risonho e com mais saúde.

 

Que problemas musculares costumam observar em adolescentes que chegam aqui ao serviço de Fisioterapia da Cintramédica?

Os mais relevantes são uma condição denominada síndrome femoropatelar. Os casos mais frequentes caracterizam-se, de maneira geral, pela falta de força nos membros inferiores, sobretudo nos músculos da coxa, os quadricípites, que provocam uma alteração na posição da rótula com comprometimento a nível funcional, ou seja, dificuldade na marcha. Curiosamente, também acontece em jovens atletas em alta competição.

 

E quais os sintomas? Quais as queixas?

Queixam-se sobretudo de dores nos joelhos. Doí-lhes os joelhos quando caminham durante muito tempo, quando se baixam, quando permanecem muito tempo sentados, quando fazem desporto na escola ou nas aulas de educação física. De tal maneira que os pais até pedem declarações para eles não fazerem educação física quando, na minha opinião, o que a maior parte destes jovens que não praticam atividade física precisaria é de fortalecer os quadricípites.

 

Com que idades aparecem estas queixas?

Começam a aparecer estes casos entre os 12 e os 15 anos. Mas pelo que temos observado é uma situação que se prolonga no tempo, pela idade adulta e com agravamento das lesões.

 

E como se trata em fisioterapia esta síndrome femeropatelar?

A abordagem é conservadora, visando o melhoramento biomecânico das articulações. Utilizamos tapes ou bandas neuromusculares para corrigir a orientação da rótula e no fortalecimento dos músculos, principalmente do quadricípite. Por outro lado, aqui na Fisioterapia da Cintramédica, consideramos também muito importante uma reeducação postural, sobretudo quando as crianças estão sentadas com más posturas, o que pode agravar este tipo de patologias. Sensibilizamos para maus comportamentos como o de cruzar as pernas quando se sentam, colocar os calcanhares debaixo da bacia, ou sentarem-se em cima de uma só perna. Esse tipo de más posturas favorece o comprometimento do músculo, acabando por alterar outras estruturas articulares e dando origem a lesões. Está ligado, sobretudo, à inatividade física que se tem vindo a observar cada vez mais nas crianças.

 

Quais são as consequências, a longo prazo, da síndrome femeropatelar?

Se os jovens não tratarem este problema e continuarem sem praticar qualquer tipo de atividade física que fortaleça os músculos das coxas, mais tarde, além do desgaste, podem ter a necessidade de se sujeitar a uma cirurgia para orientar a rótula. Há já pessoas que têm de fazer essa cirurgia logo pelos 20, 21 anos, coisa que antigamente raramente se via.

 


Como pode ser prevenido este tipo de lesões?

Na minha opinião, em casos de jovens que não praticam atividade física, o desporto é fundamental para prevenir este tipo de lesões. Por outro lado, em jovens que praticam desporto de alta competição, terão de reduzir os treinos.

 

Mas um adolescente que já tenha síndrome femeropatelar tem de ter cautela com o desporto que vier a praticar. O que recomenda?

No caso de patologias como esta, é recomendável evitar desportos que provoquem impacto na rótula, como a corrida, sem antes haver um fortalecimento dos músculos envolvidos. A natação e andar de bicicleta, por exemplo, são desportos excelentes uma vez que não trazem grande impacto para a rótula. 

 

Falou também de correção de posturas. Como podem os pais estar mais atentos?

Um dos sinais precursores desta patologia são os joelhos inclinados para dentro quando as crianças caminham. É um problema que pode ser visível na marcha logo por volta dos 6 anos, ou ainda quando as crianças se sentam com as pernas voltadas para trás e para os lados. Os pais podem corrigir essas posturas logo nessas idades. Além disso, os pais podem estimular o interesse pela prática de uma atividade física como algo lúdico. Há muitos adolescentes que encaram o facto de terem de fazer desporto como se fosse uma tarefa da escola, como uma obrigação…

 

E como podem os pais ajudar os filhos a encontrar e a praticar um desporto que gostem?

Na minha opinião, o mais importante é encontrar um desporto que se goste. Há crianças que gostam de jogos de equipa, como o basquetebol ou andebol, outras gostam mais de desportos individuais, como o ténis de mesa ou o atletismo. Por vezes, e ao longo dos anos, as crianças variam os gostos e devem poder experimentar outros desportos. Não há “más razões” para começar a praticar desporto. Por exemplo, estou a lembrar-me de uma rapariga que frequentou aqui as sessões de Fisioterapia e que praticava patinagem artística. Um dos motivos que a levou a praticar essa modalidade foi porque achava os fatos de patinagem artística muito bonitos e adorava ter um fato daqueles. Depois acabou por se apaixonar de tal maneira pela modalidade que veio a ser federada e a ganhar muitos torneios e campeonatos. O mais importante é a criança praticar uma atividade física com a qual se identifique.

 

Quando trata crianças com problemas musculares, consegue que eles mudem as posturas e a forma como olham para o desporto?

Sim! Aliás, é bastante gratificante ver quando as crianças sentem uma evolução nas sessões de Fisioterapia. Quando, ao fazerem determinados movimentos que, antigamente, lhes provocavam dor, agora, depois de corrigidas determinadas posturas, deixam de a sentir. Posso mesmo dizer que, quase sempre, as crianças mudam os hábitos e temos excelentes resultados. Aliás, dou o exemplo de um rapaz com 15 anos que frequenta neste momento a Fisioterapia da Cintramédica, que é um pianista fantástico, tem ganho inúmeros prémios, mas que tinha muitas dores nas costas. Diz-nos que está muito melhor desde que começou a fazer a fisioterapia connosco e, de facto, notam-se muitas melhorias. Entretanto já escolheu a natação como desporto, uma modalidade que, além de se adaptar ao seu perfil mais introvertido, tem a flexibilidade de poder ser praticada em qualquer lugar, uma vez que ele tem de se deslocar a vários países onde vai dar concertos. Entretanto, na última sessão de fisioterapia, disse-nos que já aprendeu a gostar de estar na água. Faz parte da nossa missão ajudar os nossos jovens a encontrarem o desporto que os faz realmente felizes.

FISIOTERAPIA NA CINTRAMÉDICA