Acidentes de mergulho em águas rasas: não acontece só aos outros

data de publicação16 Agosto 2022 artigo revisto por
Joaquim Goulão  |  Ortopedista

Os acidentes de mergulho durante a época balnear continuam a ser uma das principais causas de lesões na coluna entre jovens adultos. Uma vez que cerca de 96% dos acidentes de mergulho acontecem entre os meses de maio e setembro, todos os anos a Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral (SPPCV) investe em campanhas de prevenção que visam sensibilizar a população para este problema de saúde pública.

 

Como acontecem os acidentes de mergulho?

Um dos principais indicadores é que a maioria das vítimas de acidentes de mergulho desconhecia, ou conhecia mal, o local onde mergulhou. São mais frequentes em piscinas, mas podem ocorrer em todas as zonas balneares, costeiras ou fluviais com pouca profundidade ou com rochas. A maior parte dos acidentes desta natureza ocorre, tipicamente, em locais cuja profundidade é inferior a 1,5 metros, podendo ainda acontecer derivado ao impacto na água em resultado de saltos de maiores altitudes.



O que provocam?

A maior parte das lesões na coluna derivadas dos acidentes de mergulho ocorrem quando a cabeça bate no solo, numa rocha, objeto ou pessoa. Após o impacto, o pescoço recebe todo o peso do corpo. Em resultado, pode dar-se uma brusca flexão ou extensão do pescoço que dá origem a uma fratura ou deslocamento de uma ou várias vértebras cervicais (geralmente C5, C6 ou, por vezes, C7). A fratura ou luxação das vértebras comprime a medula responsável pela transmissão das ordens vindas do cérebro para todas as regiões do corpo humano. A compressão da medula pode dar então origem a necrose (morte dos tecidos e células) da zona afetada e a pessoa pode ficar paralisada. De acordo com o grau da lesão na medula, o mergulhador pode ficar paraplégico (paralisado apenas nas pernas) ou tetraplégico (sem movimento nos braços ou pernas). Muitas vezes, infelizmente, fica também inconsciente em resultado do impacto, podendo até morrer por afogamento.



Quem é mais afetado?

A estatística dos acidentes de mergulho coloca em evidência qual a população que está mais em risco:

  • Cerca de 75% dos acidentes ocorrem na faixa etária dos 15 aos 30 anos
  • 92% das vítimas são do sexo masculino
  • Em 40% a 50% dos casos a vítima tinha consumido álcool ou drogas antes do acidente
  • 16% dos acidentes de mergulho ocorrem à noite ou em condições de visibilidade muito reduzida
  • Quando existe traumatismo, a coluna cervical é atingida em 96% dos casos
  • 15% dos acidentados ficaram em condições de tetraplegia


Sinais e sintomas de lesão após mergulho

Os sinais ou sintomas de lesão na coluna incluem dor local com eventual irradiação para os membros superiores. Podem incluir náuseas, cefaleias, tonturas, fraqueza ou incapacidade de mover os braços ou pernas. Pode também ocorrer formigueiro ou dormência nos membros e lesão na área abaixo da zona atingida. É frequente observar-se também sintomas como estado de consciência alterado, dificuldades respiratórias, perda de controlo da bexiga ou do intestino.



O que fazer?

Caso presencie um acidente de mergulho e estiver numa área balnear concessionada deve chamar imediatamente o nadador-salvador. Em alternativa deve ligar para o 112.

Após garantir que a vítima consegue respirar é muito importante não lhe mexer demasiado. Tente deitá-la de barriga para cima, com a cabeça e pescoço alinhados com a coluna vertebral, de modo estável e sem nenhum movimento brusco que possa agravar a lesão.



Como prevenir?

Conhecer o local onde vai mergulhar é essencial para evitar acidentes. É extremamente perigoso mergulhar em locais de baixa profundidade ou onde a visibilidade não permita apurar se rochas, troncos, bancos de areia ou outros obstáculos podem comprometer um mergulho seguro. Deve apenas mergulhar se não existirem obstáculos, e em locais onde a profundidade tenha, pelo menos, o dobro da sua altura.

Não mergulhe de locais demasiado altos, uma vez que basta um erro numa postura incorreta para o impacto na água ser suficiente para provocar lesões graves. Não mergulhe à noite, nem mergulhe sozinho. Evite brincadeiras como empurrões para dentro da água e outras acrobacias. Não mergulhe de costas nem em corrida. Tenha também muita atenção aos mergulhos a partir de pranchas.

Se não estiver confortável num mergulho, não o faça por muito que os amigos o pressionem. Se souber mergulhar, faça-o com calma e apenas após verificar todas as questões de segurança. Evite entrar na vertical e prefira entrar na água numa posição mais oblíqua, de forma a atingir menor profundidade e velocidade no mergulho. Mantenha os braços esticados e as mãos à frente, em extensão, de forma a antever o que se aproxima e a proteger a cabeça e pescoço ao longo do mergulho.

Finalmente, nunca mergulhe após o consumo de bebidas alcoólicas ou drogas. Leve o mergulho muito a sério. É que como diz a campanha de sensibilização da SPPCV, “há saltos que podem mudar a tua vida”.

Artigo revisto por

Joaquim Goulão

Ortopedista