Vírus Sincicial Respiratório: o que é o VSR e como proteger os mais novos

data de publicação09 Janeiro 2023 entrevista a
Carina Cardoso  |  Pediatra

O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é um dos vírus respiratórios mais frequentes em idade pediátrica. É extremamente comum de outubro a abril, coexistindo com outros vírus que afetam o sistema respiratório, como, por exemplo, o vírus da gripe. Durante a pandemia de COVID-19, numa altura em que as populações estavam mais atentas para a etiqueta respiratória, para o uso de máscara e também devido a períodos de isolamento social, a prevalência de infeções de VSR foi mais reduzida. Com o aliviar de algumas destas medidas de prevenção, tem sido notícia o aumento da frequência de casos de infeção nas urgências pediátricas e, em alguns casos, de internamento de crianças pequenas.

A Dra. Carina Cardoso, Pediatra na Cintramédica, ajuda-nos a perceber no que consiste este vírus respiratório, como se propaga e que sintomas provoca, além de ajudar a esclarecer pais e educadores sobre medidas preventivas que possam minimizar os efeitos do VSR este Inverno.


O que é o VSR e quem está mais em risco?

O Vírus Sincicial Respiratório é um vírus que infeta o aparelho respiratório e é muito comum nos meses mais frios, sobretudo do Outono e Inverno. Qualquer pessoa pode contrair uma infeção causada pelo VSR. No entanto, as situações mais problemáticas são habitualmente observadas em:
• Nos extremos da idade, ou seja, em crianças muito pequenas (até aos 6 meses, mas sobretudo abaixo dos 3 meses) e nos idosos.
• Crianças prematuras
• Crianças com doenças crónicas, sobretudo de coração ou pulmão
• Crianças cujo sistema imunitário esteja fragilizado devido a uma imunodeficiência ou tratamento médico


Quais são os principais sintomas que pais e educadores devem reconhecer?

Cerca de 4 a 6 dias depois do contágio, observa-se, de forma progressiva, corrimento nasal, nariz entupido, tosse, espirros, febre, perda de apetite, dores no corpo e pieira/respiração sibilante. A duração dos sintomas pode variar entre 3 a 7 dias. Nas situações mais preocupantes, e sobretudo nos bebés mais pequenos, os sintomas principais podem ser irritabilidade, recusa alimentar, perda da normal atividade, prostração e pieira persistente.


Quais são as formas de doença provocadas pelo VSR?

A doença causada pelo VSR é geralmente ligeira. Pode manifestar-se apenas como uma constipação, sem febre, e isto é mais comum em adultos saudáveis e nas crianças mais velhas. Porém, podem surgir alguns casos de pneumonia, mas estes são mais frequentes nas crianças com os antecedentes descritos acima (quem está mais em risco). Já abaixo dos 2 anos é frequente observar-se bronquiolite.


É necessário efetuar algum exame?

Perante a suspeita de infeção por VSR não é necessário realizar exames complementares de diagnóstico. No entanto, os mesmos só devem ser utilizados na suspeita médica de alguma complicação ou se houver necessidade de internamento.


Em que consiste o tratamento da doença?

Por se tratar de uma infeção viral, o tratamento habitual é dirigido aos sintomas que a criança apresenta: 

  • Medicação para a febre
  • Lavagem nasal com soro fisiológico
  • Reforço da ingestão de líquidos
  • Elevação da cabeceira da cama e repouso

Por vezes há situações em que se recorre ao uso de broncodilatadores, se surgir uma respiração sibilante, ou de antibióticos, se a criança apresentar sintomas de infeção bacteriana secundária, como otite ou pneumonia.


Trata-se de um vírus extremamente contagioso. Como é que se propaga?

O VSR é propagado através do contacto com secreções da boca ou do nariz. Assim sendo, o contágio ocorre pela inalação de gotículas expelidas pela pessoa infetada (ao falar, tossir ou espirrar), pelo contacto direto com essas secreções (beijar a face de uma criança infetada ou partilhar utensílios como talheres e copos), ou pelo contacto com superfícies contaminadas. Note-se que o VSR pode permanecer nas superfícies durante algumas horas. Este aspeto é importante, uma vez que a partilha de brinquedos é uma das formas mais comuns de contágio entre crianças nos infantários e espaços conjuntos de lazer para crianças.


Que medidas preventivas podem ser tomadas em casa e na escola para evitar o contágio?

As principais medidas para prevenir a infeção pelo VSR são semelhantes àquelas aplicadas na prevenção das restantes infeções respiratórias virais:

  • Medidas de higiene das mãos: Lavagem frequente das mãos com água corrente e sabão. Sempre que a lavagem não for possível, aconselha-se a utilização de álcool-gel
  • Medidas de higiene de superfícies: Limpeza frequente das superfícies de maior contacto, tais como corrimões, maçanetas, interruptores, ecrãs de dispositivos eletrónicos, etc
  • Etiqueta respiratória: Uso de máscara por pessoas que apresentem sintomas respiratórios, sobretudo se contactarem com crianças pequenas ou idosos. É importante ainda relembrar que ao tossir ou espirrar deve-se tapar o nariz e a boca, fazendo uso de um lenço descartável ou do antebraço. Os lenços de papel usados são para deitar fora, com lavagem das mãos logo de seguida
  • Evitar contacto próximo: Quem apresenta sintomas respiratórios deve evitar o contacto próximo com outras pessoas, como beijar, tocar nas mãos e partilhar utensílios (copos ou talheres, por exemplo).

Num contexto de urgências pediátricas com grande afluência, como devem os pais proceder, perante a presença de sintomas respiratórios?

Tanto quanto possível, antes de recorrer às Urgências, os pais e cuidadores devem procurar aconselhamento com o seu médico assistente. De forma geral, se a criança tiver mais de 6 meses de idade e sintomas ligeiros com menos de 48h de duração, os pais podem começar por aplicar as medidas sintomáticas descritas acima (ver "No que consiste o tratamento da doença?"). Se possível, não devem levar as crianças à creche ou à escola, sobretudo se tiverem febre.

Deve-se contactar a Linha da Saúde 24 ou recorrer à Urgência:

  • No 1º ou 2º dia de doença – se a criança estiver prostrada e pouco reativa, com febre igual ou superior a 40°C, com dificuldade respiratória, vómitos e/ou diarreia incontroláveis, irritabilidade, perda total do apetite, se tiver menos de 6 meses e, claro, sempre que os pais considerarem que se pode tratar de uma situação mais grave.
  • Entre o 3º e 5º dias de doença – a criança tiver febre acima de 38.4°C, vómitos, diarreia, manchas na pele que antes não existiam e os restantes sintomas mencionados acima.

Existe vacina para o VSR ou, em alternativa, algum medicamento específico que previna o seu aparecimento? Em que casos é recomendado?

Atualmente, não existe um tratamento curativo para as infecções por VSR, e para prevenção estão em desenvolvimento vacinas, que ainda não se encontram disponíveis. Há, no entanto, disponível apenas para um grupo muito específico de crianças com risco de desenvolver uma infeção grave, o palivizumab, que é um medicamento administrado a nível hospitalar, com o objetivo de reduzir as hospitalizações.

Entrevista a

Carina Cardoso

Pediatra