A Síndrome pós-COVID-19 é uma realidade que não deve ser ignorada. Um ano depois de ter declarado estado de pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para as sequelas da infeção por SARS-CoV-2. E apesar da investigação estar no início, já existem dados alarmantes, tendo em conta que mais de 38 milhões de pessoas foram infetadas em todo o mundo. De acordo com declarações do Diretor-Regional europeu da OMS, cerca de 10% das pessoas infetadas com COVID-19 sofrem de Síndrome pós-COVID-19, o que transportando para o caso português dá um número superior, aos dias de hoje, a 80 mil pessoas.
A Profª Drª Amélia Feliciano, Pneumologista na Cintramédica Mafra, ajuda-nos a compreender nesta entrevista o que é a Síndrome pós-COVID-19, como se manifesta e que medidas devemos adotar para diagnosticar precocemente esta condição.
A doença causada pelo SARS-CoV-2 (COVID-19) é atualmente uma emergência de saúde em todo o mundo, sendo motivo de grande preocupação pela sua rápida disseminação. Considerando o enorme impacto desta doença, é urgente a identificação das formas agudas, que podem ser assintomáticas, ligeiras, moderadas ou graves. Após a fase aguda, alguns doentes recuperam totalmente, enquanto outros mantêm queixas sistémicas, respiratórias, neurológicas, psiquiátricas, cardíacas, vasculares e/ou gastrointestinais, o que se designa por Síndrome pós-COVID-19.
Esta síndrome pode comprometer a qualidade de vida e pode ser pós-agudo, quando os sintomas persistem após 3 semanas do diagnóstico. Por outro lado, pode ser crónico, quando os sintomas persistem além das 12 semanas após o diagnóstico e não podem ser explicados por outra doença. Além disso, os sintomas são variáveis de pessoa para pessoa. Podem ainda flutuar ao longo do tempo e durar semanas ou meses.
São exemplos manifestações respiratórias, cardíacas, neurológicas, psicológicas ou sistémicas, que se iniciaram na fase aguda e persistem durante algum tempo após esta.
Relativamente ao sistema respiratório são exemplos a sobreinfeção bacteriana, a persistência de alterações radiológicas pulmonares e de queixas respiratórias como a tosse, a dor torácica e a falta de ar. Os casos graves incluem a ocorrência de fenómenos tromboembólicos e as doenças do interstício pulmonar.
Sim, existem. Podem persistir queixas sistémicas como, por exemplo, a fadiga, a adinamia (prostração física), a limitação na atividade física, o sono não reparador, a perda de apetite e do peso.
Por outro lado, são exemplos de manifestações cardíacas as arritmias, o dano do miocárdio e a insuficiência cardíaca. Podem também ocorrer manifestações neurológicas como a persistência de cefaleias, tonturas, diminuição do olfato e do paladar e a alteração da visão. Nos casos mais graves pode ocorrer o AVC isquémico ou a hemorragia intracerebral. Quanto às consequências psiquiátricas, esta pandemia tem sido um importante stressor psicológico, causando um impacto tremendo nas várias áreas da vida individual e das organizações. São disso exemplos a dificuldade na concentração, a depressão, a ansiedade, o stress pós-traumático e o medo de estigmatização.
A consulta pós-COVID-19 é importante para verificar quadros de sintomatologia que ainda persistem ou, simplesmente, para responder a dúvidas que as pessoas possam ter relativamente ao seu estado de saúde após a infeção.
Assim, é importante o seguimento sustentado dos doentes que tiveram COVID-19 para avaliação clínica e vigilância das possíveis consequências ou sequelas. Estes doentes devem ser avaliados numa consulta, cerca de 4 semanas após a alta clínica ou teste positivo.
Podem ser solicitados exames complementares como análises sanguíneas, gasimetria arterial, eletrocardiograma, ecocardiograma, radiografia ou TAC torácica, estudo funcional respiratório, entre outros.
Se persistirem sintomas respiratórios como a fadiga, a tosse, a dor torácica, a falta de ar, as queixas nasais e/ou descontrolo de uma doença respiratória que tenha (asma, DPOC, ou outra) o doente deve ser avaliado numa consulta de Pneumologia. Finalmente, aqueles doentes que tiveram pneumonia provocada pela infeção COVID-19 também devem ser reavaliados numa consulta de Pneumologia.
A COVID-19 é ainda uma doença com muitas questões por resolver. Mesmo após a alta clínica, muitas pessoas apresentam queixas a nível respiratório que não podem ser atribuídas a mais nenhuma doença. Por isso, se for o seu caso, não facilite, e marque já a sua Consulta de Pneumologia na Cintramédica.