Síndrome de Asperger: é possível ter uma vida normal

data de publicação18 Fevereiro 2021

A Síndrome de Asperger integra atualmente as perturbações do espetro do autismo, sendo uma das mais ligeiras destas condições. É uma perturbação do neurodesenvolvimento de base genética que, em Portugal, afeta cerca de 40 mil pessoas. Por outro lado, e de acordo com a Organização Mundial da Saúde, uma em cada 160 crianças apresenta esta síndrome.

O seu nome deriva do pediatra austríaco que primeiro a descreveu na década de 1940. Hans Asperger observou em rapazes comportamentos idênticos aos do autismo clássico, com dificuldades nas competências sociais e de comunicação, mas que denotavam inteligência e linguagem convencionais.

Sintomas que permitem reconhecer a Síndrome de Asperger

Embora se saiba que esta disfunção tem origem num funcionamento cerebral particular, não existe, ainda, um marcador biológico. Por isso, o diagnóstico é baseado num conjunto de critérios clínicos. Entre os sintomas que ajudam a identificar a Síndrome de Asperger incluem-se a dificuldade na criação de relações interpessoais, presença de estereotipias (movimentos repetitivos) e interesses específicos em crianças e/ou adolescentes com inteligência acima da média. Entre os principais destacam-se:

  • Fraca interação social
  • Discurso repetitivo e robótico
  • Inteligência normal ou acima da média
  • Falta de “senso comum”
  • Movimentos estranhos
  • Obsessão com temas completos
  • ​Dificuldade em perceber os sentimentos e emoções dos outros
Características comportamentais

Reconhecidos como pessoas tímidas, solitárias e de difícil relacionamento com os outros, os portadores de Asperger são pessoas focadas em interesses particulares, que podem concretizar os seus sonhos e ter uma vida normal se tiverem orientação adequada.

Distinguem-se dos casos de autismo clássico pela menor severidade das manifestações e ausência de repercussão ao nível da emergência da linguagem.

As crianças com Síndrome de Asperger apresentam, na sua grande maioria, boas habilidades gramaticais e um vocabulário avançado em idade precoce. No entanto, aspetos da linguagem falada, como volume, entoação e velocidade, são frequentemente diferentes das outras crianças. Por outro lado, alterações de rotina são, normalmente, também motivo para crises de ansiedade.

Interesses específicos

Outra das características dos portadores de Asperger é o seu interesse peculiar por áreas intelectuais específicas. Em contraste com o autismo, onde os interesses são essencialmente por objetos, os Asperger desenvolvem um interesse obsessivo por áreas como a matemática, ciência, literatura, história ou geografia, querendo aprender tudo quanto possível sobre esse tema.

Difícil diagnóstico

Apesar deste conjunto de sintomas, a síndrome de Asperger pode ser difícil de diagnosticar. A Síndrome de Asperger é uma perturbação do espectro do autismo de nível I, o mais ligeiro para estes distúrbios de acordo com o DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders).

Crianças com Asperger funcionam bem na maioria dos aspetos da vida. Por isso, pode ser fácil atribuir os comportamentos estranhos ao simples facto de serem diferentes. Nas meninas, por exemplo, pode ser ainda mais difícil de diagnosticar, uma vez que alguma timidez é, muitas vezes, atribuída ao sexo feminino. Segundo os especialistas, a intervenção precoce, envolvendo a formação educacional e social, realizada enquanto o cérebro ainda está em desenvolvimento, é importante para crianças com Síndrome de Asperger.

Os pais devem estar cientes destes sintomas de modo a poder reconhecê-los e marcarem uma consulta com o seu Pediatra, de modo a poder enquadrar uma estratégia terapêutica atempada.

 

Revisão científica do artigo:

Dra. Laura Oliveira

Pediatra

Dra. Ana Sofia Branco

Pediatra