Os malefícios do tabaco aquecido

data de publicação11 Janeiro 2023 artigo revisto por
Inês Peres Claro  |  Pneumologista

Os produtos de tabaco aquecido começaram a ser comercializados em Portugal em 2015 pela Philip Morris International®. Esta empresa multinacional, da qual a Tabaqueira® é subsidiária, escolheu o nosso país como o 4º mercado a nível mundial onde estes novos produtos seriam vendidos ao público. Desde então, e de acordo com dados da própria Tabaqueira®, existem cerca de 400 mil “utilizadores” de iQOS® em Portugal. Uma vez que cerca de 17% da população portuguesa é fumadora, podemos aferir que 1 em cada 5 fumadores no nosso país são “utilizadores iQOS®”.

De acordo com 12 sociedades médicas científicas, das quais se destaca a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, não existe evidência que os produtos de tabaco aquecido representem menor risco para a saúde do que os cigarros convencionais.
Vejamos, relativamente a estes produtos, o que diz a Comunidade Científica acerca das suas consequências para a saúde.
 

O que são produtos de tabaco aquecido?

De acordo com a Fundação Europeia do Pulmão (ELF), os produtos de tabaco aquecido são dispositivos que contêm tabaco, ao contrário dos cigarros eletrónicos. O tabaco é aquecido a uma temperatura elevada (no caso dos iQOS® a 350°C), criando fumo que o utilizador pode inalar. São produtos que contêm nicotina, aditivos químicos e, muitas vezes, aromas. O tabaco aquecido, tal como os cigarros convencionais, provoca dependência, devido à presença da nicotina. Aliás, contém cerca de 84% da nicotina encontrada num cigarro convencional, de acordo com a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. Ainda de acordo com esta associação médica, o filtro de polímero das recargas de tabaco aquecido derretem a cianohidrina a partir do formaldeído em meio alcalino, substância que é tóxica mesmo em baixas concentrações.
 

Fumar (tabaco aquecido) mata!

De acordo com a ELF, foram encontrados nos produtos de tabaco aquecido mais de 20 químicos prejudiciais à saúde em quantidades superiores às encontradas nos cigarros convencionais (ou até mesmo nos cigarros eletrónicos), além de novas substâncias que não existem nos cigarros tradicionais. A empresa que produz os iQOS® afirmou que existe uma redução de 90% a 95% da quantidade de substâncias tóxicas nos seus produtos, mas apenas refere estudos produzidos pela própria indústria de tabaco, levantando a questão de conflito de interesses nos estudos apresentados. Vejamos o que alguns estudos independentes, citados pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia, referem:

  • Foram encontradas altas concentrações de substâncias como material particulado (poluente), alcatrão, acetaldeído, acrilamida e metabolito da acroleína (ambos cancerígenos)
     
  • O formaldeído (tipo de álcool tóxico) encontra-se em maiores quantidades em alguns produtos de tabaco aquecido do que nos cigarros convencionais
     
  • A quantidade de acenafteno, substância potencialmente cancerígena, é quase 3 vezes superior no tabaco aquecido do que num cigarro convencional
     
  • Comparativamente a um cigarro tradicional, os produtos de tabaco aquecido têm apenas menos 18% de acroleína, menos 26% de formaldeído, menos 25% de nitrosaminas específicas do tabaco, e menos 50% do benzaldeído
     
  • Um estudo experimental chegou à conclusão que os produtos de tabaco aquecido provocam o mesmo tipo de dano nas células pulmonares que os cigarros convencionais.
     
Foco no que é importante: deixar de fumar!

Os produtos de tabaco aquecido contêm nicotina e não são um substituto menos prejudicial do que os cigarros convencionais. Além disso, grande parte dos “utilizadores” de tabaco aquecido continuam a fumar cigarros convencionais. Não são uma opção para a cessação tabágica, prolongam a dependência da nicotina e não constituem uma alternativa de “risco reduzido” para a saúde.

Se for fumador, de cigarros convencionais ou de produtos de tabaco aquecido (ou de ambos), marque uma Consulta Antitabágica e dê início a uma nova vida, verdadeiramente sem fumo.

Artigo revisto por

Inês Peres Claro

Pneumologista