A Cardio-Oncologia é a área da Cardiologia que se dedica ao diagnóstico, tratamento e seguimento das doenças cardiovasculares em pessoas diagnosticadas com cancro, acompanhando o paciente antes, durante ou após o tratamento oncológico. O Dr. João Ferraz, Cardiologista na Cintramédica, ajuda-nos a perceber a relevância desta área que toma como objeto duas patologias que constituem as principais causas de morte em todo o mundo.
As doenças cardiovasculares e o cancro são as principais causas de mortalidade a nível mundial, representando, em conjunto, cerca de 70% dos óbitos.
Com o aumento da esperança média de vida, assistimos a uma maior prevalência das doenças crónicas na população mais velha, uma vez que a idade é um dos fatores de risco quer para a doença cardíaca quer para o cancro. De acordo com a American Cancer Society, a nível mundial é expectável que em 2040 haja cerca de 27,5 milhões de novos casos de cancro e 16,3 milhões de mortes apenas devido ao envelhecimento da população. Por outro lado, e de acordo com dados do IHME e da revista The Lancet, as doenças cardiovasculares são já a principal causa de perda de saúde acima dos 50 anos.
Conjugando as duas patologias, podemos aferir que, nas fases mais adiantadas da vida, haverá maior probabilidade de um paciente ter cancro e doença cardíaca em simultâneo.
Os recentes avanços dos tratamentos oncológicos, com novos medicamentos e terapias, tem-se revelado exponencial nos últimos anos. Essas conquistas aumentaram significativamente os anos de vida dos doentes após o diagnóstico de cancro, tendo criado, porém, um paradoxo em forma de desafio a várias especialidades médicas, desafios estes a que a Cardiologia não é exceção. Alguns dos principais efeitos colaterais da quimioterapia e da radioterapia afetam diretamente o sistema cardiovascular, provocando hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, arritmias e/ou enfarte do miocárdio.
Está bem definido que, quanto maior for a idade do utente, mais suscetível estará de sofrer de várias patologias, nomeadamente cardíacas. Nesse sentido, maior será também a taxa de incidência dos efeitos colaterais provocados pelo tratamento oncológico. Para dar resposta a estes desafios, foi criada a área da da Cardio-Oncologia, vertente da Cardiologia focada no diagnóstico precoce e gestão adequada das doenças cardiovasculares que afetam os portadores de neoplasias, tenham estes utentes um diagnóstico de cancro recente ou encontrando-se em fase de consulta de seguimento.
A avaliação em Cardio-Oncologia deve ser realizada antes de se iniciar o tratamento oncológico, e é baseada em alguns pilares:
A monitorização adequada desses utentes, juntamente com protocolos com fiabilidade demonstrada, permite minimizar e corrigir possíveis complicações que possam surgir, promovendo o tratamento oncológico completo e com a maior segurança possível, aumentando não só a probabilidade de cura, como também a qualidade de vida do utente.
Ainda existem muitos conhecimentos a serem adquiridos relativamente às mais recentes soluções em quimioterapia, uma vez que muitos efeitos adversos podem surgir no futuro, algumas vezes mesmo uma década após o tratamento. Os doentes ditos “curados” devem manter vigilância no longo prazo, através de consultas de seguimento em Cardio-Oncologia, de modo a prevenir não só eventuais sequelas que possam surgir derivadas dos efeitos colaterais do tratamento oncológico, mas também para preservar a sua saúde cardíaca e geral.
No próximo dia 24 de fevereiro vão decorrer as 2ªs Jornadas Científicas Cintramédica, um evento dedicado à abordagem multidisciplinar na prática clínica.
A insuficiência cardíaca é uma patologia caracterizada pela dificuldade que o coração tem em fazer chegar nutrientes e oxigénio ao resto do corpo.