Depressão pós-parto: no que consiste e como prevenir

data de publicação13 Janeiro 2021 autor do artigo
Ana Vale  |  Enfermeira

A depressão pós-parto é uma doença que pode afetar uma em cada 7 mulheres. É uma condição do foro psicológico que tem sintomas e sinais identificáveis que podem ser prevenidos. Para tal, é fundamental estabelecer linhas de comunicação com a família e, em alguns casos, pedir ajuda especializada. Fique a conhecer os contornos da depressão pós-parto e de condições como o “baby blues” ou distúrbios de ansiedade que podem ser sinais de alerta da doença.
 

O outro lado da felicidade

O nascimento de um filho é um acontecimento marcante na vida de uma mulher e da sua família. É um momento de grande expectativa e felicidade, mas que também pode ser gerador de stress, ansiedade, tristeza, isolamento e depressão. Esta é uma faceta da maternidade muitas (demasiadas) vezes vivida sozinha e em silêncio, sem que alguns sinais característicos da depressão sejam verbalizados e sem que seja emitido um pedido de ajuda, algumas vezes por desconhecimento de que esses sinais são, de facto, fatores de risco de uma doença como a depressão pós-parto. Tal como a diabetes (doença de natureza hormonal), a depressão pós-parto não tem uma causa conhecida, mas tem sintomas, fatores de risco conhecidos e tem tratamento, nomeadamente farmacológico e não farmacológico. Resta, por isso, combater o silêncio e o isolamento, derrubar estigmas e pedir ajuda quando for necessário.
 

Estar triste é estar com depressão?

Após o nascimento de um bebé há uma descida abrupta dos níveis hormonais na mulher, especialmente nos primeiros dez dias. Além deste facto, as necessidades de alimentação de um recém-nascido têm um impacto significativo na higiene de sono da nova mãe. Aliado a estes dois fatores há ainda a natural preocupação com o bem-estar do bebé, sendo que qualquer contrariedade ou desafio associado, pode espoletar alterações de humor, com momentos de irritabilidade, tristeza, preocupação acrescida, ansiedade, medo ou choro fácil. Este fenómeno denomina-se “baby blues” e são comuns a cerca de 80% das mães.

Torna-se portanto muito importante ter conhecimento dos sinais de “baby blues”, para que se possa lidar com esta fase da forma mais adequada possível. Deste modo, aqui elencamos alguns dos aspetos relacionados e sintomas associados:

  • Surgem com maior frequência ao segundo ou terceiro dia de vida do bebé mas têm tendência a atenuar-se no espaço de uma a duas semanas;
  • Caracterizam-se por súbitas alterações de humor que podem ir do contentamento à tristeza. Num minuto a mulher sente-se orgulhosa do seu trabalho como mãe e no outro está a chorar porque sente que não está à altura da tarefa;
  • Perda de apetite ou desinteresse na higiene pessoal devido sobretudo a cansaço extremo;
  • Irritabilidade, sentimento de estar sobrecarregada, ansiedade e choro fácil.
     
Quando a tristeza dá origem a distúrbios de ansiedade

As exigências do pós-parto e as expectativas criadas antes do nascimento podem precipitar ou agravar situações de perturbações da ansiedade. Esta é já uma condição diferente do “baby blues” e, de acordo com alguns autores, pode afetar até cerca de 30% das mulheres até seis meses depois do nascimento. Há que ter em atenção o aparecimento destes sintomas uma vez que também podem ser precursores da depressão pós-parto.

A ansiedade é um distúrbio amplamente estudado e caracterizado. O mais comum é a perturbação de ansiedade generalizada, que pode chegar aos 8% na gravidez e no pós-parto. Esta condição está associada a uma preocupação excessiva e incontrolável durante grande parte do dia, durante vários meses e a vários níveis. Por outro lado, a perturbação obsessivo-compulsiva é outro distúrbio de ansiedade observável em cerca de 3,5% das mulheres na gravidez e no pós-parto. Neste caso, metade das mulheres com perturbação obsessivo-compulsiva preexistente denotaram um agravamento da sua doença na gravidez e pós-parto.

Também o stress pós-traumático, relacionado muitas vezes com vivências traumáticas de partos e gravidezes anteriores, por exemplo, pode desenvolver-se ou intensificar-se numa nova gravidez/pós-parto, assim como, a fobia social, que se caracteriza pelo medo irracional que muitas mulheres têm de sair com os seus bebés à rua, por exemplo.

São vários os tipos de alterações de ansiedade que cada mulher pode experienciar no período perinatal, sendo muito importante uma atenção acrescida da mulher e respetiva família a estes fenómenos. Se este for o seu caso, ou se conhecer alguém que identifique, é importante pedir ajuda especializada para minimizar o sofrimento vivido e obter a ajuda/tratamento adequado.

 

Depressão pós-parto: sinais de alarme

A depressão pós-parto tem características completamente diferentes das duas situações acima descritas. No entanto, a sua raiz pode residir em agravamentos do “baby blues” e da ansiedade perinatal (período entre a gravidez e o pós-parto). Vejamos alguns dos sintomas clássicos da depressão pós-parto e sinais a que devemos estar atentos:

Sintomas de depressão pós-parto

  • Fazem-se sentir nas primeiras quatro semanas após o nascimento ou mesmo mais tarde, podendo prolongar-se ao longo de um ano;
  • Evitação da família e amigos;
  • O seu “baby blues” não melhorou. Duas semanas depois sente-se cada vez mais triste e desamparada.
  • Tristeza e culpa consomem os seus pensamentos. Tem episódios frequentes de choro, sente-se triste e recrimina-se, dizendo que não tem capacidade para ser mãe. É também muito frequente em casos de mães de bebés prematuros ou com necessidades especiais.
  • Perde interesse nas coisas que gosta, seja numa série de televisão ou mesmo no seu prato favorito. A falta de apetite prolongada no tempo e de alimentos de que gosta são sinais preocupantes.
  • Dificuldade em tomar decisões, seja por cansaço ou por não querer saber ou tomar parte de uma decisão, revelando-se em situações quotidianas como sair da cama, tomar banho ou mudar a fralda do seu bebé.
  • Preocupação excessiva/obsessiva, ou mesmo desinteresse, pelos cuidados gerais a realizar o seu bebé.
  • Insónia e sonolência extremas são, paradoxalmente, sinais a que deve estar atenta.
  • Eventos stressantes como uma separação, conjugal ou familiar, assim como a morte de alguém querido podem potenciar uma depressão pós-parto.
  • Pensamentos suicidas ou relacionados com magoar-se a si própria ou ao bebé podem ser sinais de depressão pós-parto ou mesmo de psicose pós-parto (condição ainda mais grave do que a depressão pós-parto).

Se pensa que tem depressão pós-parto fale com o seu médico o mais depressa possível. As mulheres com historial de depressão, nomeadamente noutras gravidezes, estão mais propensas a vir a ter uma depressão pós-parto. Por outro lado, o stress, adição de drogas ou álcool, baixa autoestima, problemas na gravidez, gravidezes não desejadas, ou uma criança com necessidades especiais podem também potenciar casos de depressão pós-parto.
 

Pedir ajuda é o primeiro passo

A depressão na gravidez e no pós-parto, ou seja, a depressão perinatal, não acontece só aos outros nem é um problema de personalidade. É uma doença muito comum e que, de acordo com, a Direção-Geral da Saúde, afeta cerca de 10% das mulheres na gravidez, e 12% a 16% no pós-parto, sendo também importante ter conhecimento de que 40% das mulheres com depressão na gravidez prolongam esta condição no pós-parto. Os sintomas nunca se revelam do mesmo modo e cada caso é um caso. Por isso, a prevenção é fundamental.

Nesse sentido, a Cintramédica criou a Consulta de Saúde Mental Perinatal, um serviço que tem como objetivo ajudar as mulheres nesta fase de transição para a maternidade. Cuidar do bem-estar emocional e promover o desenvolvimento de capacidades que ajudem as mulheres a sentirem-se empoderadas relativamente ao seu novo papel de mães é a missão da Enfermeira Ana Vale, a especialista que estará à sua espera nesta nova consulta já disponível na Cintramédica Shop.


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Ana Vale

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