Como escolher o brinquedo ideal para o seu filho?

data de publicação12 Dezembro 2022 entrevista a
Laura Sofia Oliveira  |  Pediatra

"Qual o brinquedo ideal para o meu filho?"
Esta é a questão que muitos pais fazem nos dias que antecedem o Natal ou as datas de aniversário. A idade é um critério mais ou menos generalizado, com a maioria dos fabricantes a colocarem nas embalagens dos brinquedos a idade recomendada de cada produto. No entanto, há outros fatores a ter em conta. A Drª Laura Sofia Oliveira, Pediatra na Cintramédica, responde em entrevista a algumas questões que os pais podem fazer na altura de decidir que brinquedo dar aos mais pequenos.
 

Que critérios devem guiar a escolha de um brinquedo?

A segurança das crianças deve ser a prioridade máxima para os pais na hora de escolherem os brinquedos. Deve confirmar-se sempre se o brinquedo possui o selo de segurança certificado pela UE (CE) que garante que foi devidamente testado. Alguns brinquedos podem ter produtos químicos nocivos à saúde. Por outro lado, na escolha do brinquedo, as peças pequenas podem constituir um perigo acrescido, sobretudo se a criança tem menos de 3 anos. Podem ter componentes pequenos susceptíveis de ser engolidos ou, pior, aspirados. Pelo mesmo motivo, é necessário ter também muito cuidado com brinquedos de pequenas dimensões. Deve também verificar-se se o brinquedo contém pilhas, baterias ou fios e quão fácil é o acesso da criança aos mesmos. 

Deve-se ainda destacar que se devem evitar brinquedos com pelos, como peluches, sobretudo, se a criança tiver asma ou rinite alérgica. A preferência deve recair sempre em materiais antialérgicos e que possam ser lavados com frequência. 

Os brinquedos simples são os melhores. Acabam por estimular mais a imaginação, a criatividade e, muitas das vezes, são mais didáticos. Um bom exemplo é uma simples bola. Com ela, a criança pode ter acesso a uma nova textura (couro, tecido…), ter noção de ação e reação (quando chuta, a bola bate na parede e volta), da força (quanto mais forte maior a distância) e de coordenação. Consegue divertir-se sozinha ou em companhia.

Nas crianças mais velhas também considero importante os brinquedos que são para construir pelos próprios.

Um bom brinquedo é aquele que possibilita a descoberta e é multifacetado. Deve permitir montar e desmontar, mudar as cores, dar novos formatos, fazer sons, treinar equilíbrio e concentração, criar histórias. Isto estimula muito a criatividade da criança e também a sua autoconfiança.
 

Na primeira infância, até aos 3 anos, quais os tipos de brinquedos que podem ajudar a esta fase de desenvolvimento?

A partir dos 3 meses parecem-me adequados os chocalhos, roquinhas, mordedores, ou bonecos de pano que o bebé possa começar a tentar manipular. Nesta etapa, também recomendo os chamados tapetes de atividades: a criança ainda não senta, mas mexe nos diferentes tipos de acessórios do brinquedo. 

Nos meses seguintes, quando os bebés já conseguem ficar sentados (6 a 8 meses), são importantes objetos que possam manipular e examinar diferentes formas, cores e sons.

Aos 9 meses, começam a ter interesse em brinquedos com botões que possam carregar e que provoquem uma determinada reação como sons ou o aparecimento de animais.

Entre o primeiro ano e os 3 anos, as crianças começam a andar e a interagir cada vez mais com o que as rodeia. Querem mexer em tudo e começam “imitar a vida adulta”. Por isso, apreciam brinquedos como telefones de brincar, objetos para fingir que estão a cozinhar, a limpar, a conduzir e começam a gostar de bonecas e de carrinhos. É o tempo para brincar com plasticinas, de pintar com as pontas dos dedos e de experimentar o lápis de cera, desenvolvendo a coordenação motora fina e estimulando a criatividade. Com este intuito, também têm um papel interessante, as peças de encaixar ou mesmo puzzles simples. 

No pré-escolar, entre os 3 e os 6 anos, a criatividade parece ser uma das características mais presentes. Como podem os brinquedos ajudar?

Nessa fase ainda é importante ter brinquedos que exercitem a motricidade fina da criança: blocos para montar e construir que aumentam a criatividade da criança e o poder de concentração. O faz-de-conta ocupa grande parte das brincadeiras da criança (os heróis, princesas e até os tipos de profissões). Por isso, os cenários completam a fantasia: o forte apache, navios, castelos, casinhas de boneca. Habilidades como estratégia e memória ficam ainda mais aguçadas. É nesta fase que surgem os primeiros jogos (os mais simples como dominó e memória) e quebra-cabeças. Cheias de energia, a criança é atraída pelo movimento: carrinhos, motos, comboios, aviões e, claro, as bicicletas. 
 

A partir do momento em que a criança aprende a ler, os livros ganham uma nova dinâmica nas crianças. Como podemos ajudar a criança a relacionar-se melhor com os livros?

Eu diria que a interação com os livros deve começar muito antes da criança saber ler. Ainda bebés, já podem interagir com livros para ganhar familiaridade com esses objetos. É muito importante que a leitura seja parte da rotina. Devem ler-se pequenos trechos diariamente para fortalecer o hábito da leitura no futuro. Deve, no entanto, evitar-se leituras muito extensas, pois pode criar aversão e falta de concentração, ao invés de promover o gosto pelos livros. 

Deve-se chamar a atenção para as figuras do livro, falando em voz alta o nome da mesma e apontando. Fazer gestos, expressões faciais e mudar o tom de voz de acordo com a história. São estes pequenos atos que estimulam a imaginação.

Deve explorar-se os vários elementos do livro, apontando para eles: “Olha o gatinho. O gatinho faz miau!”. Fazer perguntas: “Onde está o cãozinho? Quem faz ão ão?"
 

As consolas e tablets são um dos “brinquedos” mais desejados. Como aconselha a sua utilização e a partir de que idades?

Na minha opinião, a utilização destes brinquedos deve ser somente a partir dos 4 ou 5 anos, sempre limitando o seu uso a horas pré-estabelecidas e sempre por pouco tempo e, como deve acontecer com qualquer ecrã, nunca perto das horas de dormir. Não devem nunca substituir as outras brincadeiras.
 

Acha que o melhor presente que podemos oferecer aos nossos filhos é o nosso tempo e disponibilidade para brincar com eles?

Sem dúvida, não há melhor presente: reforçar os laços, dar carinho e muita atenção.

Entrevista a

Laura Sofia Oliveira

Pediatra