Doença de Alzheimer: conheça os riscos que pode ir a tempo de modificar

data de publicação21 Setembro 2021 entrevista a
João Pedro Peres  |  Neurologista
A Doença de Alzheimer afeta cerca de 125 mil pessoas em Portugal, constituindo entre 60% a 70% de todos os casos de demência. Mas de acordo com dados de 2018 do Relatório de Prevalência de Demência do Alzheimer Europe, em 2050 este número pode quase duplicar.
O Dr. João Pedro Peres, Neurologista na Cintramédica, ajuda-nos a conhecer melhor a Doença de Alzheimer, nomeadamente quais os fatores de risco que podemos modificar ou até estratégias e comportamentos que devamos adotar para diminuir o impacto desta patologia.
 
O que é a doença de Alzheimer e qual é a população mais afetada?
A doença de Alzheimer é a causa mais frequente de demência. Trata-se de uma doença degenerativa do cérebro que leva à perda progressiva das capacidades intelectuais. Afeta sobretudo a população idosa, podendo, raramente, afetar pessoas abaixo dos 55 anos de idade.
 
Quais os principais sintomas?
Os sintomas iniciais mais frequentes são os esquecimentos para factos que ocorreram recentemente (problemas de memória). Tal característica leva a que a pessoa repita questões que já foram respondidas ou que tenha conversas repetitivas. Pode levar ainda a esquecimentos importantes como esquecer-se do gás ligado ou das chaves dentro de casa, entre outros. A progressão da doença leva à disfunção em outras áreas cerebrais além da memória. Pode conduzir a situações de desorientação espacial, levando a pessoa a perder-se, mesmo em locais conhecidos. Por outro lado, podem ocorrer mudanças na personalidade/temperamento, resultando em comportamentos desadequados. Em casos menos frequentes, esta doença pode ainda manifestar-se por dificuldades em falar ou dificuldades de visão. À medida que a doença evolui acaba por atingir o córtex cerebral na sua totalidade, levando a uma progressiva dependência dos outros.
 
Quais os principais fatores de risco? Existem alguns fatores de risco modificáveis?
Nas formas de aparecimento tardio (a forma mais frequente), os principais fatores de risco não modificáveis são a idade, história familiar e história pessoal de doença cerebrovascular (AVC, por exemplo).
Os principais fatores modificáveis são a hipertensão arterial, diabetes, obesidade, hipercolesterolémia (colesterol elevado), tabagismo, o traumatismo cranioencefálico e a depressão.
 
De que forma podem ser tomadas medidas preventivas para prevenir a doença de Alzheimer?
As medidas podem ser tomadas por cada um de nós individualmente e pela sociedade como um todo.
Como medidas de saúde pública destaco a promoção da redução do sal nos alimentos, a sensibilização dos riscos do consumo de dietas hipercalóricas, campanhas para a cessação tabágica, a redução da sinistralidade rodoviária e dos acidentes de trabalho, bem como a promoção do exercício físico. Estas são medidas importantes que podem ter um impacto na redução do fardo social desta doença.
Por outro lado, e individualmente, uma vez que os fatores de risco vascular parecem ser os principais fatores  de risco para o desenvolvimento de Doença de Alzheimer, é importante a realização de um rastreio, tratamento e controlo regular da hipertensão arterial, diabetes e hipercolesterolémia. É importante ainda a cessação tabágica se esta existir.
Finalmente, a Dieta Mediterrânica, o exercício físico regular e a atividade intelectual são fatores protetores, bem estabelecidos, contra o desenvolvimento da Doença de Alzheimer.
 
O estímulo cognitivo, desde a infância e ao longo da vida, pode contribuir para retardar o aparecimento da Demência e da Doença de Alzheimer?
É verdade que as pessoas, independentemente da idade, que realizaram ao longo da vida atividades intelectualmente estimulantes como a leitura, aprendizagem e realização de jogos, têm menos probabilidade de desenvolver Doença de Alzheimer.
 
Fatores como o isolamento ou a depressão podem desencadear o aparecimento precoce da Doença de Alzheimer?
A depressão parece ser um fator de risco para a Doença de Alzheimer. Em relação ao isolamento, considero importante salientar 2 pontos: primeiro, o isolamento pode ser uma manifestação de depressão, e só por si constituir um fator de risco para a Doença de Alzheimer; por outro lado, também pode ser uma manifestação da Doença de Alzheimer, uma vez que que esta por vezes manifesta-se inicialmente como uma modificação da personalidade prévia, podendo potenciar situações de isolamento.
 
Qual o papel de familiares e cuidadores para a preservação da qualidade de vida das pessoas diagnosticadas com Alzheimer?
Desde o acompanhamento durante o processo de diagnóstico, gerador de incerteza e ansiedade, passando pela estimulação cognitiva e promoção das atividades numa fase inicial, sem esquecer a gestão diária dos problemas da pessoa nas suas atividades normais durante a progressão da doença, considero que o papel dos cuidadores é fundamental. Estas serão as pessoas de referência da pessoa com Alzheimer, numa situação em que todas as outras referências se vão perdendo. 

Entrevista a

João Pedro Peres

Neurologista