A importância de tomar os antibióticos até ao fim

data de publicação09 dezembro 2024 autor do artigo
Dra. Inês Martins de Almeida  |  Médica de Medicina Geral e Familiar
O uso correto dos antibióticos é fundamental na saúde de todos nós e o seu consumo inadequado pode ser um problema à escala global. Quando um médico prescreve um antibiótico, o tratamento deve ser levado até ao fim, seguindo as instruções. Recuemos no tempo para percebermos o que são e para que servem os “famosos” antibióticos.  A palavra é de origem grega e quer dizer “contra um ser vivo”, ou seja, assinala a função combater infeções causadas por bactérias, impedindo a sua reprodução e crescimento. Estes fármacos existem desde 1928, quando o primeiro antibiótico (Benzilpenicilina ou Penicilina G) foi descoberto pelo médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming.
 
Algumas questões importantes sobre antibióticos

Nas infeções virais é ineficaz tomar um antibiótico

Sendo esta a primeira mensagem a reter deste artigo, quais serão as possíveis consequências se mesmo assim o fizermos? O uso excessivo ou inapropriado de antibióticos pode resultar na sua ineficácia quando estes forem realmente necessários. Isto acontece porque as bactérias desenvolvem resistências a estes medicamentos. 

Não insista com o seu médico para que lhe prescreva antibiótico

Já ouviu falar em resistência bacteriana? Trata-se de um dos problemas de saúde mais desafiantes e preocupantes da atualidade. As bactérias alteram-se e adaptam-se de tal forma que conseguem reduzir ou mesmo bloquear a ação do antibiótico utilizado, sobrevivendo e ganhando força para crescer. Estes microrganismos que desenvolvem resistência são muitas vezes conhecidos por ‘superbactérias’. Resultado disso, e como afirma a Organização Mundial de Saúde (OMS), “os medicamentos tornam-se ineficazes e as infeções persistem no corpo, aumentando o risco de disseminação”.

Esta ameaça mundial é um problema real e causa milhares de mortes todos os anos. Estima-se que, se nada for feito, causará milhões de óbitos anualmente. Em 2050, poderá mesmo matar mais pessoas do que o cancro. Estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) em maio de 2024 indicam que há mais de 1 milhão de pessoas a morrer por ano devido às resistências a antibióticos, podendo chegar aos 10 milhões em 2050. Segundo a OMS, este número disparou a partir da pandemia de Covid-19, um período em que assinalaram muitos casos de uso indevido e excessivo de antibióticos, que coloca a saúde humana mais exposta a bactérias. Importa, portanto, refletir que cada toma de antibiótico desnecessária é uma contribuição para a diminuição da sua eficácia (quando verdadeiramente necessário) e para esta futura catástrofe.

Mais de metade dos antibióticos prescritos não são necessários

A decisão de iniciar um antibiótico depende da infeção específica que deve ser exclusivamente tomada pelo seu médico. O primeiro passo deste processo deverá ser perceber se a origem da infeção é bacteriana ou outro tipo de agente. Infeções comuns como a constipação, a gripe, a maioria das tosses e as dores de garganta são causadas por vírus e, como já mencionado, não são tratadas com este tipo de remédio.
 
Não deve, em caso algum, tomar um antibiótico que tenha sobrado de uma infeção anterior. Mesmo que os sintomas lhe pareçam semelhantes, cada infeção é diferente e pode ser derivada de bactérias diferentes.

Mesmo que se sinta melhor, tome o antibiótico até ao fim

Esta recomendação pode ser familiar para os utentes. Isto deve-se ao facto de ser estudada a dose e o tempo necessários para combater cada infeção. Se parar o antibiótico antes do tempo recomendado, as bactérias que ainda não foram destruídas podem recomeçar uma nova infeção e selecionar então bactérias resistentes.

Se está a fazer alguma medicação, informe sempre o seu médico

Apesar de poderem alterar a eficácia de outros medicamentos que esteja a tomar e, como tal, a causar efeitos adversos ou reações alérgicas, os antibióticos são, geralmente, medicamentos seguros e bem tolerados. Um dos exemplos importantes são os contracetivos orais (também conhecidos como pílula) que se podem tornar incapazes de fazer a sua ação de prevenção da gravidez. Alguns podem ser transmitidos ao feto durante a gravidez ou a amamentação e, como tal, nestas circunstâncias, deve sempre falar com o seu médico.

Atenção se tiver sintomas gástricos, diarreia, infeções vaginais ou outros problemas

Consulte primeiro um médico antes de iniciar a toma de um antibiótico. Deve também saber que sendo estes responsáveis pela destruição de muitas bactérias, algumas das nossas bactérias ‘boas’ serão também potencialmente diminuídas, o que se pode traduzir em algumas alterações.

Deve ainda ter em conta outras questões sobre o consumo de antibióticos:
  • Informe-se se é mais indicado tomar o antibiótico com refeições ou com o estômago ‘vazio’. Alguns alimentos ou bebidas podem interferir com a ação do fármaco
  • Não deve tomar antibióticos com bebidas alcoólicas
  • Se se esquecer de tomar um comprimido, não dobre a dose
Para evitar o uso excessivo ou inadequado de antibióticos, é fundamental fortalecer o sistema imunitário e prevenir infeções bacterianas com hábitos saudáveis. Algumas dicas incluem: lavar as mãos frequentemente, evitar locais contaminados ou tocar em zonas potencialmente contaminadas e manter o programa de vacinação atualizado.
Se um médico lhe prescrever um antibiótico, tome até ao fim
Tomar um antibiótico até ao fim é essencial. Mesmo que os sintomas melhorem antes do fim do tratamento, tomar o antibiótico até ao fim é necessário para garantir que todas as bactérias sejam eliminadas.
 
No entanto, há muitos casos de doentes a recorrer aos antibióticos para tratar de infeções virais, como gripes ou constipações. Interromper o tratamento ou utilizar inadequadamente um antibiótico pode tornar os microorganismos resistentes, anulando o efeito dos mesmos quando ocorre uma infeção bacteriana. Além disso, tomar o antibiótico corretamente, no horário indicado, ajuda a evitar que as bactérias se adaptem ao fármaco, prevenindo complicações e recaídas.
 
Quando o tratamento não é seguido corretamente, a infeção pode não ser curada completamente e o risco de contágio para outras pessoas aumenta. Não se esqueça que os antibióticos podem ser muito poderosos quando tomados corretamente, mas para manter esse poder têm de ser utilizados somente quando estritamente necessário. A melhor forma de combater este grande problema de saúde mundial passa por estar informado e informar aqueles que o rodeiam a usar corretamente estes fármacos. O seu uso adequado pode salvar vidas!

Autor do artigo

Inês Martins de Almeida

Médica de Medicina Geral e Familiar

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