Sol e Pele: Como se proteger dos Raios Ultravioleta

data de publicação18 Agosto 2020 autor do artigo
João Goulão  |  Dermatologista

O verão é a estação do ano que geralmente associamos a férias, passeios ao ar livre, sol, calor e descanso. No entanto, esta é também a época do ano que mais preocupações pode dar à saúde da sua pele.
O Dr. João Goulão, médico dermatologista na Cintramédica fala-nos dos perigos da exposição solar e de como nos podemos proteger, para aproveitar ao máximo este período.

 

O que é a Radiação Ultravioleta?

O Sol emite radiação ultravioleta (RUV) como parte do espetro eletromagnético, a qual se divide consoante o seu comprimento de onda:

  • Radiação UVC (270-290nm)
  • Radiação UVB (290-320nm)
  • Radiação UVA – UVA1 (320-340nm) e UVA2 (340-400nm)

 

Quais são as radiações que nos atingem?

A radiação UVC é praticamente toda filtrada na estratosfera, pela camada de ozono, portanto as radiações que nos atingem são a UVB e UVA. A sua penetração ao longo das camadas da pele varia proporcionalmente ao seu comprimento de onda, pelo que a radiação UVA atinge as camadas mais profundas da pele, tais como a derme.

A radiação UVB é a principal responsável pelas queimaduras solares imediatas e pelo cancro de pele, enquanto a radiação UVA está mais associada ao envelhecimento cutâneo. Nos últimos anos a radiação UVA tem despertado maior interesse, pois parece não ser assim tão inocente na patogénese do Cancro da Pele.

 

Como é que nos devemos proteger da Radiação Ultravioleta?

A forma de prevenir a RUV é evitar o sol, mas isso é impraticável. O sol é essencial ao desenvolvimento e crescimento dos seres vivos, mas depende de nós a sua utilização de forma responsável e moderada.  Existem, no entanto, formas de minimizar a exposição solar, tais como:

  • Evitar o pico da RUV – entre as 11h da manhã às 16h da tarde;
  • Procurar espaços de sombra;
  • Usar vestuário adequado, incluindo chapéu de abas largas e óculos de sol, e usar cremes “protetores solares”. Os cremes, na prática, não se têm demonstrado eficazes na proteção contra a RUV, muito por culpa dos próprios consumidores1.

 

Como devem ser usados os cremes Protetores Solares?

Os “protetores solares” têm que ser aplicados de forma generosa, numa quantidade superior a 2mg/cm2 (o que na prática é muito difícil determinar à vista). Deverão ser aplicados em toda a pele, 20 minutos antes da exposição solar, sem esquecer os lábios, os pavilhões auriculares (orelhas), o contorno dos olhos, mãos, pés e também o couro cabeludo nas pessoas calvas. Não esquecer ainda que deverão ser reaplicados de 2 em 2 horas, sobretudo se o indivíduo toma banho ou transpira. Salienta-se também que a utilização dos “protetores solares” é apenas uma forma de reduzir os efeitos da radiação UV, não substituindo as outras medidas já referidas.

 

A roupa que utilizamos é suficiente para nos protegermos?

O vestuário como foto-protetor tem despertado interesse por parte dos médicos, não só na prevenção do cancro de pele mas também na proteção de algumas dermatoses (doenças de pele) que agravam com a exposição solar, ou seja as fotodermatoses, como por exemplo lúpus eritematoso, dermatomiosite, porfiria cutânea tarda, etc. No entanto, uma grande percentagem da roupa de verão não nos confere uma proteção eficaz contra a radiação ultravioleta.

 

O que é o Cancro da Pele?

O cancro de pele é o tumor mais frequente no adulto. Uma em cada seis pessoas poderá desenvolver uma forma de cancro de pele ao longo da sua vida. Há vários fatores que predispõem o seu aparecimento, sendo a radiação ultravioleta (RUV) o principal fator ambiental implicado.

Em 90% dos casos de cancro cutâneo existe história de exposição solar excessiva, sobretudo na infância e adolescência. Infelizmente, o cancro cutâneo continua a aumentar de incidência e uma das razões para tal é a diminuição da camada de ozono, mas tem havido também um aumento da exposição solar por parte das pessoas. Estas têm maior atividade lúdica ao ar livre e, para agravar, vestem-se com menos roupa.

O bronzeado como característica “esteticamente bonita” também tem contribuído para este aumento de incidência.

É importante frisar que não há “bronzeado saudável”! Uma pele bronzeada é uma pele em sofrimento e só será considerada moda por uma pessoa inconsciente! Uma pele bronzeada é uma pele que sofre ou sofreu uma agressão, e o escurecimento da pele não é mais do que a defesa do organismo contra essa agressão.

Atendendo às condições climáticas e geográficas do nosso país, que favorecem um aumento da exposição solar, e ao crescente aumento dos níveis de radiação UV devido à rarefação da camada de ozono, é premente sensibilizar a população para a importância da alteração de comportamentos, utilização responsável e saudável da radiação solar e desmistificar a ideia do “bronzeado saudável”.

Autor do artigo

João Goulão

Dermatologista