Fimose: deve-se ou não puxar a pele da pilinha para trás?

data de publicação20 Março 2024 artigo revisto por
Nuno Jacques Pena  |  Pediatra

A fimose é a incapacidade de retrair a pele (prepúcio) que envolve a glande do pénis para trás. Esta condição constitui, muitas vezes, uma dúvida de pais e mães que desconhecem se devem forçar esta retração ou como devem proceder. Fique a conhecer quando é que a fimose deve ser alvo de tratamento e o que fazer em cada situação.
 

O que é a fimose

O prepúcio é um anel da epiderme do pénis que surge às 6 semanas de gestação e que só fica completamente individualizado 10 dias após o nascimento. Quase todos os recém nascidos apresentam a impossibilidade fisiológica de retrair completamente o prepúcio. No entanto, esta é uma situação natural e fisiológica que não pode ser confundida com qualquer problema ou patologia. De facto, esta aderência do prepúcio desaparece naturalmente em quase todos os meninos até aos 3 anos de idade, podendo, noutros casos, demorar até aos 10 anos.
No entanto, existem situações de origem inflamatória que podem dar origem a uma fimose patológica. A origem deste problema deve-se, sobretudo, a uma inflamação bacteriana ou fúngica do prepúcio, que conduz a lesões que danificam a elasticidade da pele e tornam impossível a retração do prepúcio. Por outro lado, podem também ocorrer inflamação derivadas a tentativas forçadas de retrair o prepúcio após as crianças deixarem as fraldas. Os pais devem ter muito cuidado para não forçar a retração do prepúcio, fazendo-o levemente e progressivamente, além de garantirem a higiene da criança.
 

Sintomas de fimose nas crianças: quando intervir?

Não ser possível retrair completamente o prepúcio em crianças até aos 3 anos não é, só por si, motivo de preocupação maior. Por outro lado, é possível que se acumulem secreções entre a glande e o prepúcio que depois tenham o aspeto de pequenos altos, situações normais que correspondem à escamação de células do epitélio. Noutras situações, por exemplo, pode até formar-se um pequeno balão quando a criança urina, uma vez que o diâmetro da uretra pode ser maior do que o do prepúcio. São situações comuns, que não constituem evidência de patologia, denominando-se fimose fisiológica, mas que necessitam de cuidados por parte dos pais, nomeadamente no que diz respeito à higiene. Deve-se tentar retrair o prepúcio, de forma progressiva, sem magoar e forçar, de modo a manter aquela zona limpa, sobretudo depois da criança abandonar a fralda.
Estes são alguns exemplos de uma fimose fisiológica que, na maioria dos casos, devem ser objeto de atenção redobrada em termos de higiene. No entanto, existem sinais de inflamação a que os pais devem estar atentos. Os sinais de alerta são:

  • Dor
  • Desconforto
  • Ardor
  • Dificuldade em urinar
  • Inflamação local
     
Como se trata a fimose?

Estas são situações que devem ser equacionadas em consultório médico e de forma individualizada. Existem casos de tratamento médico que podem justificar a aplicação de uma pomada para facilitar o descolamento do prepúcio, enquanto se tenta a retração sempre com muito cuidado, sem forçar nem provocar dor, ardor ou lesões. O objetivo deste tratamento é “amolecer a pele”, de modo a que, aos poucos, a pele vá descolando. As tentativas de retração do prepúcio devem manter-se mesmo após o tratamento, de preferência durante ou após o banho, uma vez que a pele estará mais relaxada e humedecida nesse momento.
Por outro lado, se já existirem lesões cicatriciais características de uma fimose patológica ou um estreitamento do anel prepucial (sobretudo a partir dos 10 anos), o tratamento com pomada não funciona. Nestas situações, a indicação poderá ser a cirurgia. Existem duas abordagens:

  • Prepucioplastia: é a opção menos radical e indicada para quando o estreitamento do prepúcio dão é demasiado pronunciado. A intervenção consiste em proporcionar um maior alargamento do prepúcio, situação que praticamente não acarreta uma alteração da imagem corporal
  • Circuncisão: consiste na remoção total do prepúcio

Ambas as cirurgias são, por norma, realizadas com anestesia geral, de modo a preservar a criança do trauma da cirurgia.
No entanto, devemos observar que cada caso é um caso e que cabe ao Pediatra da criança propor a melhor opção terapêutica.

Artigo revisto por

Nuno Jacques Pena

Pediatra