Diabetes e doenças cardiovasculares: conheça os fatores de risco

data de publicação02 Maio 2023 artigo revisto por
João Silva Marques  |  Cardiologista
A ligação entre a diabetes e doenças cardiovasculares é bem conhecida de médicos, pacientes e cuidadores. A diabetes é - a par da hipertensão, da aterosclerose e do tabagismo - um dos principais fatores de risco de doenças cardiovasculares. De acordo com a American Heart Association, as pessoas com diabetes têm pelo menos o dobro da probabilidade de vir a morrer devido a uma doença cardiovascular do que as pessoas sem diabetes.
Por outro lado, e de acordo com dados da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, em Portugal estima-se que 1 em cada 7 adultos entre os 20 e os 79 anos tenha diabetes, sendo que 1 em cada 3 adultos tem já pré-diabetes. No total, estamos a falar de cerca de 3 milhões de portugueses, praticamente um terço da população.
A diabetes tipo 2 (a forma mais comum da doença) é muitas vezes provocada por um estilo de vida pouco saudável, nomeadamente devido a uma alimentação desequilibrada e ao sedentarismo, que, por sua vez, conduzem a excesso de peso e à obesidade, fatores de risco que a diabetes tem em comum com as doenças cardiovasculares. Vejamos como a diabetes afeta a saúde cardíaca e o que pode fazer para diminuir o seu risco.
 
Diabetes: quando o açúcar não se transforma em energia
A diabetes é a incapacidade que o organismo tem de transformar os açúcares que ingerimos em energia. Num organismo saudável existe uma hormona segregada pelo pâncreas chamada insulina, que serve para decompor as moléculas de açúcar em energia, energia essa que as células depois utilizam para realizar as suas funções. No entanto, há pessoas que deixam de produzir insulina devido a uma reação autoimune (diabetes tipo 1), ou, muito mais comum, a insulina que produzem vai perdendo a eficácia de transformar o açúcar ingerido em energia (diabetes tipo 2). 
Se analisarmos os níveis de glicose (açúcar) no sangue de uma pessoa com diabetes, vamos encontrar valores acima do que é considerado normal (superiores a 126 mg/dL após 8 horas em jejum).
Há medida que o tempo passa, esse açúcar vai-se acumulando no sangue e nas paredes dos vasos sanguíneos. Tem uma progressão praticamente silenciosa, mas podem existir alguns sinais que, em conjunto com uma análise do estilo de vida (e Análises Clínicas de rotina) podem ajudar a lançar o alerta:
  • A pessoa sente-se permanentemente com sede
  • Tem mais vontade de urinar sem ter bebido líquidos para isso
  • A visão pode ficar turva
  • Pode sentir formigueiro e adormecimento dos pés
  • Sente-se mais fatigado
  • As feridas demoram mais tempo a sarar do que o habitual
  • Podem aparecer infeções fúngicas frequentes (como a candidíase nas mulheres, por exemplo)

Diabetes e doenças cardiovasculares: reação em cadeia
Há medida que o açúcar se vai acumulando no organismo, vai produzindo efeitos devastadores. Esse excesso de açúcar no sangue danifica as paredes dos vasos sanguíneos, tornando-os menos flexíveis e mais propensos a acumular placas de gordura, ou seja, aterosclerose.
Uma vez comprometido o fluxo sanguíneo, existe maior pressão (hipertensão), fator agravado uma vez que o excesso de açúcar obriga a um maior esforço dos rins, levando à acumulação de fluidos, o que agrava a hipertensão.
Além disso, a acumulação de açúcar na corrente sanguínea altera a composição do sangue produzindo vários impactos: por um lado, aumenta a inflamação e o stress oxidativo (equilíbrio entre radicais livres e defesas antioxidantes), mecanismos também ligados à hipertensão; por outro, altera também a função das plaquetas sanguíneas, favorecendo a formação de coágulos que podem conduzir ao enfarte do miocárdio e ao acidente vascular cerebral (AVC).
O excesso de açúcar no sangue, característico da diabetes, afeta também os níveis de colesterol, com um impacto assinalável na diminuição do bom colesterol (HDL) e aumento do mau colesterol (LDL), precipitando assim o surgimento de doenças cardiovasculares.
Entre outras complicações temos também a cardiomiopatia diabética, que se traduz num endurecimento do músculo cardíaco e que pode conduzir à falência cardíaca. A diabetes afeta também os nervos que controlam o coração, que pode dar origem a neuropatias que podem provocar arritmias, tonturas e eventos cardíacos súbitos.
 
Perceção de fatores de risco comuns
A diabetes e as doenças cardiovasculares partilham uma série de fatores de risco modificáveis, ou seja, que podem ser alterados ao adotar comportamentos saudáveis.
Entre eles salientamos:
  • Praticar atividade física regular
  • Adotar uma alimentação equilibrada e variada, abolindo o fast food, as gorduras e açúcares processados, preferindo alimentos frescos
  • Dar ênfase ao consumo de frutas e vegetais
  • Beber 2 litros de água por dia e evitar o consumo de bebidas açucaradas, assim como moderar o consumo de bebidas alcoólicas
  • Aprender a gerir o stress do dia a dia ou, se for caso disso, procurar ajuda para encontrar estratégias de gestão de stress
  • Investir na qualidade e quantidade de horas de sono
No entanto, há uma série de riscos que não são modificáveis para a diabetes e para as doenças cardiovasculares. Nesse sentido, destaca-se a idade, historial familiar de diabetes ou de doença cardiovascular.
Colocando os vários fatores de risco na balança, quer para o surgimento da diabetes tipo 2, quer para as doenças cardiovasculares, é claro que a aposta na prevenção destas patologias será um investimento a longo prazo na nossa saúde e qualidade de vida, com benefícios evidentes no presente e futuro.
Quando está diagnosticada a diabetes, é importante discutir com o seu médico Cardiologista estratégias de tratamento, que permitem reduzir o risco de complicações no longo prazo.

Artigo revisto por

João Silva Marques

Cardiologista