Cancro da pele: a prevenção começa na infância!

data de publicação01 julho 2024 artigo revisto por
Dr. Arnaldo Valente  |  Dermatologista

Hoje sabe-se que 90% dos casos de cancro da pele se devem à exposição solar. Neste contexto, é também conhecido que o facto de haver queimaduras solares na infância e adolescência constitui um factor de risco acrescido para o cancro da pele, em particular para um dos tipos mais agressivos: o melanoma.
No entanto, e apesar do cancro da pele ser dos mais frequentes, é também o que tem uma percentagem de cura mais elevada quando detetado e tratado precocemente, além de ser dos mais evitáveis se adoptadas medidas preventivas relativamente à exposição solar.

 

O que está na origem do cancro da pele

O cancro da pele é provocado por mutações que danificam o ADN das células da pele. Estas mutações levam a que as células se desenvolvam de forma descontrolada, dando origem a manchas e sinais cancerígenos. Muito deste ADN danificado é provocado pela radiação ultravioleta (UV) do sol ou do solário. Felizmente, o organismo está constantemente a controlar estas mutações. No entanto, quando este controlo falha, as células cancerígenas multiplicam-se rapidamente e dão origem aos tumores malignos.

Dependendo do tipo de células da pele afectadas desenvolvem-se tipos diferentes de cancro. Vejamos os mais frequentes por ordem progressiva de malignidade:

  • Basalioma: tem origem nas células da camada basal (base) da epiderme
  • Carcinoma espino-celular: tem origem nos queratinócitos das camadas intermédias da epiderme e envolve não só na pele mas também as mucosas (lábios, boca, língua, vulva e pénis)
  • Melanoma: resulta da transformação maligna dos melanócitos, as células produtoras de melanina e responsáveis pela coloração da pele

O risco de cancro da pele aumenta com a idade e com a acumulação da exposição solar intensa.

 

Fatores de risco de melanoma

Enquanto que o basalioma e o carcinoma espino-celular afetam principalmente pessoas cujo trabalho envolva uma exposição solar constante e crónica, o mesmo não acontece necessariamente com o melanoma.
Os vários “escaldões” sofridos durante a infância, adolescência e início da idade adulta aumentam o risco deste tipo de cancro da pele. O melanoma está sobretudo associado a uma exposição solar intermitente e aguda, como acontece nos típicos “escaldões” que se verificam no verão.
As pessoas que estão em maior risco de poderem vir a desenvolver melanoma são as que têm uma pele clara, cabelo ruivo ou louro, olhos azuis ou esverdeados, com tendência para formar sardas e muitas manchas de cor castanha irregulares, dispersas pelo tronco e face.
Além destes “escaldões” na infância e adolescência, o risco de ter melanoma aumenta quando existem antecedentes familiares e se verifiquem exposições intensas aos UVA (solários).

 

Sinais de alerta
  • Alterações da cor, do tamanho, ou bordo em sinais pré-existentes
  • Aparecimento de um novo sinal em zona aparentemente saudável

O melanoma tem uma primeira fase de crescimento horizontal, que pode durar meses. Mais tarde terá crescimento vertical, podendo nessa altura formar metástases em qualquer outro órgão.

 

Como fazer auto-vigilância

Os Dermatologistas utilizam um pequeno aparelho não invasivo, chamado Dermatoscópio, para observar mais internamente a lesão.

Por outro lado usam técnica conhecida por “Abecedário”:

A: A lesão é Assimétrica?
B: Tem Bordo irregular ou indistinto?
C: Teve alteração na Cor?
D: Tem Diâmetro superior a 6 milímetros?
E: Tem Evoluído (tamanho, cor, bordo)?

Para confirmação do diagnóstico pode ser necessário fazer biópsia. Caso se confirme o cancro da pele, poderá ser necessária uma intervenção cirúrgica.

 

Prevenção: especial atenção na infância e puberdade

O papel dos pais é fundamental na prevenção e consciencialização dos possíveis malefícios da exposição aos raios UV, principalmente nas horas de exposição e no uso de solários.

Dado que a exposição solar na infância é responsável pela maior parte dos casos de cancro da pele, deve-se ter em atenção o seguinte:

  • Os bebés com menos de 6 meses não deverão expor-se ao sol despidos, dado que a produção da melanina não funciona nessa idade
  • Evitar a exposição entre as 11h30 e as 16 horas (seguir o princípio de só devermos expor-nos ao sol quando a nossa sombra é maior que nós)
  • Apostar no uso de roupa protetora e chapéus de aba larga
  • Como complemento, usar cremes protectores solares com fator 50, que mais tarde podem substituir por fator 30
  • Usar de óculos escuros com lentes adequadas

Finalmente, saber o Índice de UV diário fornecido pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Não esquecer que um dia encoberto e uma temperatura amena pode esconder um índice alto de UV.

 

Como escolher e aplicar o protetor solar?

O protetor é muito importante, mas não substitui o que foi referido atrás. Nesse sentido, na aquisição de um protetor solar deve:

  • Escolher um protetor em creme ou loção, e não em “spray” nem líquido
  • Ler o rótulo e verificar se protege para radiação UVA e UVB
  • O protetor deve ser aplicado 20 minutos antes de sair de casa
  • Reaplicar de 2 em 2 horas e após banho de mar
  • Não esquecer de aplicar nos lábios (baton), orelhas, contorno dos olhos, mãos e pés
  • Nas crianças mais pequenas é aconselhada a aplicação de protetores minerais
Os benefícios que podemos tirar da exposição solar dependem muito da utilização correta que fazemos do sol. Incutir comportamentos responsáveis nos mais novos e ensinar pelo exemplo são aspetos fundamentais para a prevenção do cancro da pele mais tarde na vida. 

Artigo revisto por

Arnaldo Valente

Dermatologista

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