“Pedras nos rins”: fique a saber o que é a Litíase Renal

data de publicação24 Fevereiro 2023 entrevista a
Jorge Rocha Mendes  |  Urologista
A Litíase Renal é uma doença provocada pela presença de cálculos nos rins, que além de causarem dores muito fortes, podem também conduzir a várias consequências a nível da saúde do sistema urinário. O Dr. Jorge Rocha Mendes, Urologista na Cintramédica, ajuda-nos a perceber como se formam as “pedras nos rins” (termo comum para os cálculos renais), assim como as razões porque se deve procurar ajuda especializada quando os sintomas desta doença, muitas vezes silenciosa, se fazem sentir.
 
Como se formam os cálculos renais? Do que são feitos?
Em determinadas circunstâncias, criam-se condições para a formação de um depósito de cristais nas cavidades renais, ou seja, nos rins. Isso pode acontecer, por exemplo, por razões metabólicas, sobretudo quando as pessoas têm um excesso de certos componentes no sangue, como ácido úrico, cálcio ou oxalato. Esses elementos, ao passarem para a urina, podem atingir uma concentração que predispõe ao tal depósito, o que pode acontecer se a pessoa não tiver o hábito de beber água em quantidade suficiente, ou se houver dificuldade no trânsito da urina (estase urinária).
Existem fatores de risco?
Sim. Há grande probabilidade de se formarem cálculos renais perante uma infeção urinária e também em casos de obstrução, isto é, se a urina não fluir como deve ao longo do canal urinário. Estes são dois exemplos frequentes na clínica diária.
A Litíase Renal atinge mais os homens ou as mulheres? E a partir de que idades?
De maneira geral atinge mais as mulheres, mas depende da natureza dos cálculos. Quando a litíase é devido a depósitos de oxalato de cálcio, atinge mais as mulheres. Se os depósitos forem de ácido úrico, atinge mais os homens, por questões alimentares e metabólicas. Quanto às idades, e de maneira geral, é mais frequente a partir dos 30 anos. No entanto, a obstrução urinária pode provocar litíase mesmo em crianças, quando é devida a malformações congénitas.
Quais os sintomas a que se deve estar atento?
A Litíase Renal é uma doença que pode ser muito silenciosa, ou seja, não dá sintomas. Só quando há deslocação de cálculos, ou quando há infeção, é que surgem os sintomas. A deslocação de cálculos provoca cólicas terríveis que são facilmente identificadas como sendo de origem litiásica. É, inclusive, considerada uma das dores mais insuportáveis em termos de comparação com outras patologias. Por outro lado, quando há infeção, a febre é o sintoma principal. A litíase silenciosa pode levar à formação de grandes cálculos que chegam a fazer o molde das cavidades renais - os chamados cálculos coraliformes.
Qual a urgência de ser observado por um médico se houver suspeita de Litíase Renal?
A Litíase Renal tem um potencial de gravidade muito elevado, sobretudo se houver infeção ou obstrução renal. Pode levar a uma septicemia (infeção generalizada no sangue), pode levar à paragem de funcionamento do rim, pode conduzir a insuficiência renal. Por isso, deve ser atacada corretamente logo que haja suspeita. 
Como é construído o diagnóstico? Que exames complementares podem ser prescritos?
O diagnóstico da litíase renal é feito com base em exames complementares de Imagiologia. Deve-se fazer uma ecografia, para começar, para demonstrar a presença de cálculos ou de dilatação do aparelho urinário. Posteriormente, para melhor localização dos cálculos, recorre-se à Radiologia, utilizando, ou não, substâncias de contraste que serão eliminadas pelo rim e que nos ajudam a planear a melhor abordagem terapêutica.
No que consiste o tratamento para a Litíase Renal?
O tratamento tem, como objetivo principal, destruir os cálculos. Mas isso vai depender do tamanho, qualidade, grau de dureza do cálculo, ou da sua localização. Há muitas variantes a equacionar. O ataque ao cálculo, ou seja, o tratamento, vai depender em grande medida desses fatores. O tratamento pode distinguir três abordagens: 
  • Médica: consiste em alterar parâmetros encontrados nas análises relativos, por exemplo, ao ácido úrico ou aos oxalatos da urina, ou interferir na acidez da mesma: como os cristais de ácido úrico são solúveis em urina alcalina, se procedermos de acordo com essa informação, podemos obter a disolução desses cálculos. 
  • Ondas de choque: chama-se litotrícia extracorporal e permite destruir cálculos de forma não invasiva. 
  • Cirúrgica: evoluiu muito ao longo dos anos, passando de uma abordagem por cirurgia aberta (rim, ureteres ou bexiga), para cirurgia endoscópica, com acesso trasuretral ou percutânea, e que consiste na introdução de aparelhos maleáveis ultrafinos, dotados de excelentes sistemas de ótica. Esses aparelhos podem ser equipados com sistemas de ultrassons ou de laser, com vista à fragmentação dos cálculos.
Após o tratamento, podem voltar os cálculos renais?
O tratamento consiste em destruir os cálculos e a pessoa fica livre desses depósitos. Mas se não mudarem as condições metabólicas, se a pessoa não mudar os seus hábitos alimentares, nomeadamente aumentar a ingestão de água, podem-se voltar a formar novamente cálculos. E isso é um ciclo tremendo. Ao fim de um ano ou dois a pessoa pode vir a ter novamente litíase.
Os cálculos e a Litíase Renal pode deixar sequelas? Quais?
Podem deixar marcas para sempre. Se os cálculos renais não forem tratados a tempo, podem provocar dilatação do rim, deixar cicatrizes nos rins, cicatrizes das próprias cirurgias, infeção crónica ou insuficiência renal. E as consequências dependem muito da grandeza dos cálculos e se atingiu um ou os dois rins. 
Quais são as principais medidas de prevenção da Litíase Renal?
Mudar os hábitos alimentares, por exemplo, sobretudo se tiver níveis elevados de ácido úrico no sangue. É dos poucos casos em que a dieta vale mesmo a pena. Em todos os casos deve-se criar o hábito de ingerir mais líquidos (2 litros a cada 24 horas), de forma a diminuir drasticamente a concentração urinária.

Entrevista a

Jorge Rocha Mendes

Urologista